sexta-feira, março 10, 2023

A Baleia

(The Whale, EUA, 2022)
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, Samantha Morton.

Charlie é um professor de literatura que vive recluso em casa por causa de uma situação peculiar: sofre de obesidade mórbida. Com o apoio da amiga e enfermeira Liz, Charlie é diagnosticado com sérios problemas de saúde mas o professor decide se aproximar da filha que está distante pois a mãe nunca suportou o fato dele ter se separado para manter um relacionamento com outro homem. Mas a junção dos problemas de saúde e dos ataques da filha, Charlie entra numa espiral de dor, culpa e impulso destrutivo.
O ótimo cineasta Darren Aronofsky tinha tudo para brilhar na adaptação da peça de Samuel D. Hunter, mas aqui realiza o seu filme mais banal. Aqui o diretor tem dificuldade de sair das armadilhas de um teleteatro. Filmado exclusivamente no apartamento de Charlie, o diretor pisa na bola ao comandar a produção. É evidente que o cenário representa a prisão física e mental do protagonista mas a fotografia escura de Matthew Libatique não sai do óbvio e o design de produção de Mark Friedberg não é inventiva ao traduzir o inferno de Charlie. Mais uma vez fica evidente a inspiração do diretor a Roman Polanski, em particular a Repulsa ao Sexo. Mas aqui o pesadelo psicológico da Catherine Deneuve vira um melodrama rasgado sob a regência da surpresa total Brendan Fraser. Jogado ao ostracismo, o astro dos anos de 1990 surpreende ao dar dignidade em um personagem problematizado (dividiu o público como obra gordofóbica ou drama denso sobre a homofobia). Importante frisar que a maquiagem ajudou bastante no trabalho do ator. Outro ponto alto é a dobradinha com a Hong Chau no papel da Liz. No entanto, a personagem da Sadie Sink como a filha de Charlie é irritante demais e unidimensional a ponto de tirar o foco do drama do protagonista.
Se em A Mãe o diretor caprichou na condução em um único ambiente tornando tudo instigante e caótico; em A Baleia (uma alusão ao clássico da literatura Moby Dick - um trocadilho  que pode soar como provocação) Aronofsky aparece no piloto automático e no final descamba para o dramalhão. E o que resta é a atuação convincente de Fraser que se desnuda de verdade ao mostrar que fisicamente está longe dos tempos de A Múmia; mas a expressão facial demostra sensibilidade ao expressar as angústias de um homem que já perdeu a fé em si mesmo.

Nenhum comentário: