terça-feira, outubro 05, 2021

Nomadland

(EUA, 2020)
Direção: Chloé Zhao
Elenco:  Frances McDormand, David Strathairn, Linda May, Swankie.

Uma pequena cidade do interior dos EUA foi criada por uma grande empresa. Mas esta não aguenta o baque da crise econômica de 2008 e vai a falência. Como a cidade e os seus habitantes dependem totalmente da empresa, a região deixou de existir. E aqui começa a jornada de um de seus habitantes: Fern.
Após perder o marido, Fern é obrigada a desocupar o seu lar de 30 anos. E a solução da protagonista é comprar uma van - que ela chama carinhosamente de Vanguarda - e viver na estrada e nos empregos que ela encontra no caminho. Mas a sua jornada é mais enriquecedora com as pessoas que cruzam o seu destino. Assim, o estilo de vida nômade se torna uma nova razão de viver.
A cineasta Chloé Zhao volta ao terreno do docudrama no mesmo formato do seu filme anterior, o ótimo Domando o Destino. E o seu estilo cai como uma luva na adaptação do livro de Jessica Bruder. Com a mão delicada, a cineasta toca em assuntos pertinentes que vai além da fronteira dos EUA: fala da falta de assistência social aos vulneráveis (emprego está difícil e a aposentadoria mal dar para viver); a cultura dos nômades, expondo a solidariedade entre os praticantes, e também o desapego aos bens materiais; e aborda a vida solitária nas estradas reforçada pela introspectiva montagem da diretora (o que pode afugentar o público no inicio do filme).
O filme de Zhao também é uma contundente critica ao capitalismo focando na decepção das pessoas a um sistema que explora e no fim só distribui migalhas. E isso pode explicar a razão da ascensão de políticos populistas que criam uma imagem de salvador mas que são mera ilusões.
Além do bom roteiro da própria Zhao, o filme engrandece graças a bela fotografia de Joshua James Richards que registra a vasta e variada natureza dos EUA: das terras congeladas do norte a aridez do sul, e pulando para o litoral verde e úmido. Outro destaque é a linda trilha sonora de Ludovido Einaudi que causa um tremendo impacto emocional mas sem cair no melodrama. É ao mesmo tempo tocante e delicado.
Nomadland não fala apenas sobre uma mulher que decide virar a página da sua vida quando percebe que tudo que ela tinha é passageiro. Vai além. É uma pessoa que entra nesse universo em busca de uma nova conexão. Um elo entre ela e as pessoas e o ambiente ao seu redor. Mesmo aos 60 anos e com força e disposição para trabalhar e viver plenamente, o que importa é a troca de energia e não o seu acúmulo. 
Por isso que a grande estrela do filme é a Frances McDormand. E aqui a atriz está um colosso. Se ela é sempre marcada por personagens fortes e de pulso firme, em Nomadland ela acrescenta um lado humano e delicado em sua composição. Com a vivência na estrada e a entrada e saída de pessoas em seu destino expõe sua fragilidade e isso vai moldando a sua própria humanidade. E com uma conclusão otimista e humanista, a diretora faz um belo filme sobre uma mulher e sua jornada da autodescoberta, a importância de viver intensamente, e o desapego aos bens materiais.

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