sábado, agosto 05, 2023

Barbie

(EUA, 2023)
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Margot Robin, Ryan Gosling, America Ferrera, Kate McKinnon.

No mundo perfeito da Barbielândia, as Barbies dominam o mundo enquanto os Kens são mero coadjuvantes. E neste universo somos apresentados a Barbie esteriotipada que vive em sintonia com as outras Barbies de diferentes padrões estéticos(e de comportamento). Mas um dia, esta Barbie começa a se comportar de forma estranha (fala da morte e até do surgimento de estrias) e a forma de reverter a situação é ir ao mundo real para encontrar o humano que está por trás disso. Mas a companhia inesperada de um Ken cria a maior confusão.
O mundo está de rosa. Com uma campanha fantástica da Warner, Barbie surpreende pelo fenômeno que criou (e que ajudou o oponente Opperheimer a atrair um grande público). Mas se o espectador esperava um filme bobo sobre a boneca mais famosa do mundo, a atriz/diretora/roteirista Greta Gerwig (cada vez mais influente em Hollywood) descartou essa visão num piscar de olhos. Aqui, Barbie chama a atenção pela ousadia de fugir do lugar comum dessas produções e enfrentar os paradigmas e dilemas que o produto causou/causa ao se transformar num símbolo de padrão de beleza (loira, branca, alta e magra) e aproveita a deixa quando a criadora da boneca - a Mattel - fez várias versões da boneca atuando em diversas profissões para focar na autonomia e independência feminina. 
Outro ponto positivo do filme é o visual incrível do mundo da Barbie em que as cores pastéis (o rosa e o azul bebê) explodem na tela criando um ar lúdico e surpreendentemente psicodélico; aliás o seu humor recorda as produções do fim da década de 1960. Outro destaque vai para a ótima atuação da Margot Robin totalmente à vontade no papel-título enquanto Ryan Gosling rouba a cena (igual ao seu personagem) como o nada bobo Ken ao humanizar o papel mais difícil do filme.
No entanto não acho o melhor trabalho da diretora; considero Adoráveis Mulheres o seu ponto alto mas em Barbie fica evidente uma cineasta madura, ousada e extremamente segura no seu taco. Aqui ela não teve freios e abusou da criatividade para fazer críticas ao mundo em relação as minorias e a insensibilidade das corporações.
O filme tem boas sacadas graças a ótima sintonia da dupla Robie e Gosling; a crítica forte e direta a Mattel e ao patriarcado. Mas tem quedas consideráveis em virtude da gama de temas que explora que vai do machismo, corporativismo e até identidade. Também não engoli a presença do insuportável Will Ferrell na sua atuação padrão; e a participação fraca do sumido Michael Cera como o boneco Alan (um personagem fora da curva que poderia ter sido melhor explorado).
Em um mundo em que se discute a igualdade de salário de homens e mulheres, Barbie chega no momento certo para debater os direitos das mulheres. E como Jordan Peele que sempre foca o racismo em suas obras, Gerwig insere um olhar feminino e pautas feministas em seus filmes, e neste blockbuster ela viu a oportunidade perfeita para conversar não sobre uma boneca fútil e sua vida perfeita, e sim sobre o empoderamento feminino. Aqui ela foi mais explicita e direta possível sobre o assunto até por vivermos em um mundo em que as pessoas desviam o real senso crítico da obra de acordo com o seu ponto de vista mais torto - que o diga Não Olhe Para Cima de Adam McKay em que os criticados (os negacionistas) viram no filme uma crítica a ciência. E com total firmeza em suas convicções a diretora não deixou espaços para visões deturpadoras...mas sem perder a graça e a delicadeza.

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