terça-feira, agosto 01, 2023

Oppenheimer

(EUA/Inglaterra, 2023)
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Emily Blunt, Matt Damon.

J. Robert Oppenheimer é um prodígio da física na primeira metade do século 20 ocasionando na sua participação em vários projetos científicos até ser escalado para uma missão pioneira mas moralmente dúbia: a bomba atômica. Com a briga armamentista na Segunda Guerra Mundial, o seu trabalho se torna fundamental para afugentar possíveis países inimigos dos EUA. Mas com o início da Guerra Fria, Oppenheimer se opõe a sua criação, e ao mesmo tempo se torna persona non grata pelos figurões da política estadunidense, particularmente o senador Lewis Strauss.
Christopher Nolan está no panteão de grandes realizadores de Hollywood atualmente ao brincar constantemente com as leis da física (Origem, Tenet) e o uso inteligente e intrigante de montar uma estória (Amnésia). E em Oppenheimer, o cineasta britânico foi feliz ao mesclar o trabalho técnico de Durkink, o didatismo de Interestelar, e o virtuosismo narrativo de O Grande Truque de uma forma bastante eficiente e orgânica. O seu ponto alto é o trabalho de som fantástico em que o efeito sonoro é presente em toda a narrativa e se mistura com a ótima trilha sonora de Ludwig Göransson causando tensão sem parar. O que poderia soar como um teleteatro, Nolan usa ao seu favor a tensão e o uso ininterrupto da trilha sonora ou de efeitos sonoros. O diretor aqui faz uma espécie de ópera biográfica. E este detalhe se torna um calcanhar de Aquiles pois têm momentos em que achei esse recurso desnecessário pois distrai e tira o foco dos diálogos (a cena íntima entre Cillian Murphy e Florence Pugh). Aqui o diretor demonstrou uma certa falta de timing ao uso da trilha sonora. E também achei um pouco de mau gosto a cena da comemoração da experiência bem-sucedida com uma música patriótica no fundo; me coloquei na pele dos japoneses que podem se sentir total desconforto com este ato.
Oppenheimer é um trabalho técnico feito para fazer bonito no Oscar. Outro destaque é a interessante edição de Jennifer Lame. Com uma grande gama de personagens e de atos, o diretor dividiu a narrativa em dois pontos de vista em que o vai e vem do tempo pode ser exaustivo além de verborrágico. No entanto este detalhe foi eliminado pela dinâmica dos atos.  E para facilitar a compreensão do público, o diretor elaborou a narração em um jogo de cores entre o colorido ponto de vista do protagonista com o preto e branco opressor do antagonista em um ótimo trabalho de fotografia do sempre competente Hoyte van Hoytema.  
Não dá para falar do filme sem mencionar no duelo de titãs entre Cillian Murphy e Robert Downey Jr. Enquanto Robert surpreende em um papel frio e maniqueísta; Murphy descama um personagem complexo que vive vários dilemas em sua vida através de uma atuação contida. As expressões corporais e o olhar que revela curiosidade, egocentrismo e desorientação. 
Para quem gosta de biografia e história é um prato cheio. E em Oppenheimer, Nolan faz uma particular adaptação de Frankenstein de Mary Shelley; em que o criador da bomba atômica se excita com a sua criação para no fim ser assombrado, punido com o seu poder destruidor. Pena que no fim o diretor não foi fundo, denso na derrocada psicológica. Mas isso é demonstrado na forma como o personagem é apresentado: um egocêntrico controlador mas... que leva uma rasteira nas suas intenções.

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