sexta-feira, fevereiro 01, 2019

Tinta Bruta

(Brasil, 2018)
Direção: Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
Elenco: Shico Menegat, Bruno Fernandes, Guega Peixoto, Sandra Dani.

"Porto Alegre é um aterro e há qualquer momento pode desmoronar!". Essa frase dita por uma personagem de Tinta Bruta retrata bem a condição do seu protagonista, Pedro. Pedro é jovem tímido, frágil e apresenta uma postura corporal que reflete bem a sua aversão social. Vítima constante de homofobia e prestes a sofrer uma penalização por ter atacado o seu algoz, Pedro perde o sentido de tudo em sua vida; exceto quando faz shows eróticos na internet na qual lambuza o seu corpo de tinta neon.
Os diretores Filipe Matzembacher e Márcio Reolon realizam uma obra porrada sobre homofobia e suas consequências (e outras manifestações de preconceito) com uma propriedade desconcertante. Com cenas pesadas, fortes, a dupla de cineastas não polpa o público de expor um universo deprimente, decadente - a capital gaúcha totalmente desprovida de seu glamour (e os seus habitantes fazem questão de ir embora) - mas mesmo assim há espaço para a beleza que envolvem o corpo tão maltratado e imerso a dor, se transformando um escudo contra todo esse sofrimento. E o ator principal, Shico Menegat, é um achado em um papel difícil que exige muito da postura e gestos.
E mesmo quieto, Pedro abre a boca e deixa uma verdade inconveniente no ar: "se eu cometesse suicídio, os outro seriam penalizados?". Todos nós sabemos da resposta, e essa passividade da sociedade é o combustível para tanta dor a uma parcela da sociedade. Mas o filme é otimista e mostra que diante de um mundo sombrio existe cores de tinta neon que fazem o corpo pulsar.

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