terça-feira, março 25, 2025

Oscar 2025

 


O Oscar 2025 reflete um momento fraco do cinema estadunidense. Após uma boa safra em 2023, Hollywood se entregou ao cinema independente representado por Anora e O Brutalista. Conclave é uma delícia de thriller britânico. No entanto nesta edição foi marcada pela polêmica obra francesa Emilia Perez que foi do paraíso com as exageradas 13 indicações (mostrando o poder da Netflix), e o purgatório com as acusações (com provas reais) de xenofobia e transfobia. Assim, refletiu numa temporada totalmente imprevisível em que o vencedor de Cannes 2024 saiu laureado na noite do Oscar com 05 prêmios. Mas sem sombra de dúvida, a noite da premiação foi especial para dois filmes tão distintos. A animação da Letônia Flow chamou a atenção e conquistou duas inéditas indicações e ganhou a categoria de animação derrotando a indústria Dreamworks e Pixar. E o cinema brasileiro fez história com as 3 indicações de Ainda Estou Aqui - incluindo a histórica indicação de melhor filme principal - a principal surpresa dos indicados. E com essa força, o filme chamou muita atenção em Hollywood, e conseguiu o primeiro Oscar para o Brasil. A festa seria melhor ainda se a Fernanda Torres levasse a de melhor atriz, mas o prêmio do Walter Salles simbolizará o empurrão necessário para produções brasileiras cresceram no mercado internacional. E que o Oscar de Ainda Estou Aqui seja o primeiro de muitos que virão.


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A lista dos vencedores do Oscar 2025:


MELHOR FILME: Anora
MELHOR FILME INTERNACIONAL: Ainda Estou Aqui (Brasil)
MELHOR FILME EM ANIMAÇÃO: Flow
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Sem Chão
MELHOR CURTA-METRAGEM: Eu Não Sou um Robô
MELHOR DIREÇÃO: Sean Baker (Anora)
MELHOR ATOR: Adrien Brody (O Brutalista)
MELHOR ATRIZ: Mikey Madison (Anora)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Kieran Culkin. (A Verdadeira Dor)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:  Zoe Saldana (Emilia Perez)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Conclave
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Anora
MELHOR FOTOGRAFIA: O Brutalista
MELHOR MONTAGEM: Anora
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Wicked - Parte 1
MELHOR FIGURINO: Wicked - Parte 1
MELHOR TRILHA SONORA: O Brutalista
MELHOR CANÇÃO: Emilia Perez
MELHOR SOM: Duna - Parte 2
MELHOR EFEITOS VISUAIS: Duna - Parte 2
MELHOR MAQUIAGEM: A Substância
MELHOR CURTA-METRAGEM EM DOCUMENTÁRIO: A Única Mulher da Orquestra
MELHOR CURTA-METRAGEM EM ANIMAÇÃO: In the Shadow of the Cypress

quinta-feira, março 20, 2025

Destaques nos Cinemas

MICKEY 17
(EUA/Coréia do Sul, 2025) de Joon-ho Bong
Ficção cientifica. No futuro, jovem aceita - e depois se arrepende - de participar de uma absurda experiência cientifica.


VITÓRIA
(Brasil, 2025) de Andrucha Waddignton
Drama. Idosa solitária arrisca a vida filmando a violência da sua área para denunciar a polícia.



BETTER MAN - A HISTÓRIA DE ROBIE WILLIAMS

(Inglaterra/EUA, 2024) de Michael Gracey
Musical. Uma excêntrica biografia do irreverente cantor pop britânico que aqui é retratado como macaco.







OESTE OUTRA VEZ
(Brasil, 2024) de Erico Rassi
Drama. No interior do Brasil, homens entram em conflito mortal ao se envolver com a mesma mulher.

sábado, março 15, 2025

Lançamentos nos Streamings

O APRENDIZ
(The Apprentice, EUA/Dinamarca) de Ali Abbase
Amazon Prime
Comédia. Na década  de 1970, uma improvável amizade entre um inexperiente yuppie e um maléfico lobista selaria o futuro dos EUA.


BARBIE
(EUA, 2023) de Greta Gerwig
Amazon Prime
Comédia. Ao sentir diferentes sensações, a famosa boneca sai de seu mundo em busca de respostas.






INSÔNIA

(Insomnia, EUA, 2002) de Christopher Nolan
Mubi
Suspense. Detetive é enviado ao Alasca para investigar um crime mas uma série de atos torna o seu trabalho exaustivo.





JURASSIC PARK
(EUA, 1993) de Steven Spielberg
Max
Aventura. Casal de arqueólogos são convidados a conhecer um parque de dinossauros vivos.






UM LUGAR SILENCIOSO - PARTE 2
(A Quiet Place - Part 2, EUA, 2021) de Johm Krasinski
Netflix
Suspense. Nesta continuação, conhecemos o início do enredo que deu origem ao primeiro filme.

LA CHIMERA

(Itália, 2023) de Alice Rohrwacher
Mubi
Comédia. Um grupo de ladrões vendem objetos arqueológicos no interior da Itália.



RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS
(Portrait de la Jeune Fille en Feu, França, 2019) de Celine Sciamma
Mubi
Drama. No século 18, uma pintora é contratada para pintar uma jovem sem esta saber.



TROPA DE ELITE
(Brasil, 2007) de José Padilha
Max
Policial. Capitão da polícia é encarregado da segurança do Papa no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo busca candidatos para a sua substituição no órgão.

segunda-feira, março 10, 2025

Conclave

(EUA/Inglaterra, 2024)
Direção: Edward Berger
Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Isabella Rossellini.

Com a morte do Papa, surge de imediato o conclave para eleição do novo chefe da Igreja Católica. Um dos cardeais cotados ao cargo é Lawrence. Mas este parece mais interessado em administrar o ritual. E neste processo depara com lutas de poder que revelam as verdadeiras máscaras por trás dos potenciais candidatos.
Após o sucesso do drama de guerra Nada de Novo no Front (2022), o cineasta alemão Edward Berger aposta numa produção caprichada na adaptação do best-seller de Robert Harris. E em Conclave, Berger não brincou em serviço e faz um show de imagens e câmeras com intuito de revelar toda a ritualística da votação de um papa, e também as tramoias por trás do evento. Assim, a tensa trilha sonora de Volker Bertelmann encaixa com a linda fotografia de Stephani Fontaine que registra - com cores fortes - os cenários e vestimentas dos cardeais. Nada escapa na lente do diretor associado ao roteiro afiado de Peter Straughan que injeta bipolaridade política atual no centro de uma disputa de poder. E outra decisão acertada da produção é o seu elenco. Enquanto Ralph Fiennes é o olhar do público que vai revelando as angústias e o peso de carregar um fado tão grande como a Igreja católica, grandes atores injetam ar de conspiração shakesperiana com louvor - em particular a revelação Carlos Diehz, ator mexicano debutando no cinema com um personagem surpreendente. Conclave é uma delícia de trailer de suspense em que os desdobramentos ocorrem de forma fluida como uma metáfora dos dias atuais em que a luta do poder (e os ideais políticos) é mais importante que o coletivo.

quarta-feira, março 05, 2025

Anora

(EUA, 2024)
Direção: Sean Baker
Elenco: Mikey Madson, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov, Karren Karagulian.

Ani ou melhor Anora, é uma garota de programa de uma inferninho de Nova York. E em um dia convencional de trabalho ela conhece Ivan, um jovem que gostou do seu serviço. A conexão dos dois é forte a ponto de ele se tornar um freguês exclusivo. E o fato de ele ser rico é só um plus que atrai Anora. No entanto, a relação comercial vai aumentando a ponto de virar afetivo, e Ivan faz um pedido de casamento a Anora que fica vislumbrada, e finalmente vê a sorte e oportunidade de sair da prostituição. Mas os pais de Ivan vão fazer de tudo para anular o casamento para desespero da protagonista. 
Vencedor da Palma de Ouro de Cannes 2024, Anora é uma surpresa mesmo que seja a personificação máxima do estilo de um dos mais criativos cineastas do cinema independente estadunidense atual: Sean Baker. O seu olhar agridoce continua sobre as minorias e sua rotina ordinária de obstáculos. Mas aqui o diretor vai além ao injetar um senso de humor atípico (chapliniano) que deixa tudo refrescante. E como uma peça dividida em duas partes, Baker injeta um ritmo alucinante tanto ao sonho de Anora em ter uma vida melhor na primeira parte como a dura realidade de ver a sua ilusão virar pó gradativamente. E se muitos comparam o filme com Uma Linda Mulher, eu vejo mais traços de Anora na personagem clássica Cabíria. Tanto a figura de Fellini quanto a de Baker personifica uma mulher que se deixou permitir em ter uma vida ideal mas que a realidade e a diferença social dificulta o desejo de ter uma vida melhor. E ainda de plus o filme que tem uma atuação antológica de uma novata Mikey Madison que está está um assombro no filme em que demonstra com garra uma mulher que sabe ser amorosa e forte, e se defender quando a situação não está a seu favor. E ela faz isso com propriedade sempre oscilando entre drama e humor. Um verdadeiro achado e que torna Anora tão singular no cinema estadunidense atual.

sábado, março 01, 2025

O Beijo no Asfalto

(Brasil, 1981)
Direção: Bruno Barreto
Elenco: Ney Latorraca, Christiane Torloni, Tarcisio Meira, Lídia Brondi.

A rotina de uma família sofre imensa abalo quando um jornalista sensacionalista e um delegado inescrupuloso exploram ao máximo um fato inusitado: Arandir beija na boca um homem que não sobreviveu a um acidente de trânsito. Esse fato aflora sentimentos e segredos da família de Aprígio, sogro de Arandir.
Ao rever O Beijo no Asfalto após tantos anos e fiquei surpreso ao ver um teor altamente kafkaniano. E hoje o texto ganha mais relevância com as fakes news. Imprensa predatória e um estado ávido por um bode expiatório é o combustível para aniquilar qualquer pessoa, e o competente Bruno Barreto surpreende ao explorar a tensão e o drama - mais sem esquecer a natureza cafajeste do grande autor da hipocrisia carioca. Mas aqui a sacanagem e a depravação moral e humana rola solta em setores públicos e privados como a imprensa e a polícia. Setores que deveriam proteger cidadãos mas que aqui ganha uma força fascista de destruir vidas. Destaque a ótima trilha sonora de Guto Graça Mello recorda demais a colaboração entre Alberto Iglesias e Pedro Almodóvar, e sai do padrão musical daquela época que é tão característico do nosso cinema. E o elenco arrasa em especial a um frio Tarcísio Meira que mesmo teatral tem uma presença magnética como o dúbio Aprígio. O Beijo no Asfalto consegue o primor de unir o melodrama rasgado de Nelson Rodrigues (e o seu teor polêmico) ao mundo perverso do controle do estado na vida do cidadão.