terça-feira, dezembro 01, 2015

Ônibus 174

(Brasil, 2002)
Direção: José Padilha

Para não confundir com a versão em longa metragem de Bruno Barreto (Última Parada 174), o trabalho de José Padilha é uma obra incômoda e demonstra que o presente (e até mesmo o futuro) repete o passado profetizado por Hector Babenco no magistral Pixote: A Lei do mais Fraco (1981). A arte demonstra a incapacidade da sociedade e do Estado brasileiro de humanizar e dar dignidade a seres fragilizados. A resposta é esquecê-los. A consequência: a violência. Fruto de um ambiente segregacionista e nada acolhedor diante de tantas desgraças como o assassinato de sua mãe, sobreviver a chacina da Candelária, vivenciar em instituições e penitenciárias desumanas. Essa foi a vida de Sandro do Nascimento que terminou no trágico assalto e sequestro ônibus 174. Vitima, culpado? A resposta é indigesta. Todos nós somos isso. E o preço a pagar é a sensação de insegurança em que a única opção é dar cabo aos marginalizados quando incomoda os cidadãos de bem. Sandro também tem culpa, poderia ter lutado para ter uma vida digna mas preferiu o que aprendeu: viver a margem de todos, se drogar, realizar pequenos furtos. Um destino marcado para morrer que deixa uma nação envergonhada e sem reação. E a sensação é de um país que não sabe lidar com gente. No fundo somos uns ingratos. Inclusive eu. Por isso que o filme me deu um certo incômodo. A sensação de impotência que criamos diante de uma realidade que é mais próxima de um pesadelo que ninguém quer ter por perto.

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