domingo, setembro 10, 2023

Apocalypse Now

(EUA, 1979)
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall, Denis Hopper.

No auge da Guerra do Vietnã, o Capitão Willard - que estava nos EUA após lutar na Ásia - retorna ao Vietnã com uma específica missão: encontrar o Coronel Kurtz, um militar da alta patente que ficou louco e que se encontra na selva causando instabilidade na região. E nesta nova jornada, Willard testemunha soldados despreparados, um militar obcecado por surf, uma família francesa decadente e outros acontecimentos que servem como uma verdadeira provação a sanidade mental do protagonista.
Assistir a obra-prima do Coppola não é fácil. Aqui o mestre não faz um épico de guerra, mas uma jornada de terror ao inferno. Do horror humano. E o público não é polpado em nenhum momento (incluindo uma chocante morte real de um animal). A missão de Willard mistura o surreal, a violência descontrolada, a maldade banalizada, um discurso ultrapassado sobre colonialismo e por fim a loucura.
Livre adaptação do livro Coração das Trevas de Joseph Conrad, Apocalypse Now é um retrato de uma guerra que era fadada ao fracasso. Uma missão em que o exército mais poderoso do mundo não daria chance a um modesto oponente. Mas na realidade o exército americano mesmo com um super armamento não estava preparado para o horror da selva, e para a resistência do inimigo já acostumado a invasões externas e vitórias em sua história.
Com uma atuação antológica de Martin Sheen que através do olhar e do corpo mergulha em um personagem que busca racionalidade em um lugar que a civilidade é um termo onipresente. Mas é Marlon Brando que rouba a cena no papel de um homem perigoso e instável que cria as suas próprias regras como um deus. Uma atuação monstruosa. Robert Duvall ganha a frase mais famosa do filme (adoro cheiro de napalm de manhã!) e Denis Hopper tem uma pequena mas importante participação no final.
Em sua parte técnica o destaque total vai para a bela fotografia do mestre Vittorio Storaro (vencedor merecidamente do Oscar) que sabe registrar o verde úmido e sufocante da Ásia e o jogo de sombras nas cenas noturnas. Pena que a trilha sonora de Carmine Coppola (pai do cineasta) soe datado em alguns momentos. Mas a direção de Coppola faz a diferença e soube conduzir a equipe mesmo diante de filmagens bastante turbulenta que daria para fazer outro filme. Nunca os bastidores de um filme espelha tanto a própria obra.
Apocalypse Now é um filme atemporal ao registrar um homem em uma jornada que parecia cada vez mais impossível de cumprir. E cada passo que dá; cada vez que se isola na selva e se distancia da sociedade, é uma prova em cheque em sua própria sanidade e humanidade. É uma prova viva que a guerra não é uma luta entre o bem e o mal, vilão e mocinho. A guerra é a perda traumática de vestígio da inocência e senso ético e moral humano. Ironicamente, Coppola nunca mais brilhou com a mesma intensidade após realizar o conturbado filme de 1979.

Nenhum comentário: