quinta-feira, maio 30, 2024

Festival de Cannes 2024

 

Nos dias 14 a 25 de maio - como nas edições anteriores - iniciou o festival mais importante do mundo (além de charmoso), o Festival de Cannes. Presidida pela cineasta estadunidense que realizou o filme de maior bilheteria dirigido por uma mulher - Barbie - Greta Gerwig. Nesta edição, a competição oficial pela Palma de Ouro apresentou uma boa seleção de filmes em que o tom político e feminista foi o seu forte. No entanto, a decisão do júri do festival foi para outra direção (o cinemão de massa) e deu a Palma ao estadunidense Anora de Sean Baker, uma comédia sobre uma garota de programa que passa a perna em um família russa rica. Mas chama atenção os dois prêmios (algo raro atualmente) conquistados pelo franco-mexicano Emilia Pérez de Jacques Audiard, um musical em que um chefão das drogas larga tudo para realizar o sonho de uma transição de gênero. Os grandes destaques da competição foram: o dinamarquês The Girl With the Needle de Magnus von Horn que relata a miserável vida de uma mulher que vive um pesadelo nos tempos da 1ª Guerra Mundial; o britânico Bird de Andrea Arnold em que uma adolescente entra em crise ao descobrir que o seu pais vai se casar; o estadunidense Tipos de Gentileza de Yorgos Lanthimos é uma coletânea de três estórias humanas e bizarras; o francês A Substância de Coralie Fargeat é um horror corporal sobre uma atriz que faz de tudo para não perder o status; o indiano All We Imagine as Light de Payala Kapadia em que duas mulheres largam o campo para serem enfermeiras em Bombaim; o português Grand Tour de Miguel Gomes que consta a estória de uma mulher que não aceita o fim do noivado e decide procurar o amado nos confins da Ásia; e o iraniano The Seed of the Sacred Fig de Mohammad Rasoulof que relata um homem que é designado ao cargo de juiz em um momento conturbado do Irã.

Outro destaque foi para o estadunidense Megalópolis - o sonho do mestre Francis Ford Coppola que dividiu a crítica e se tornou o mais comentado do festival. Fora da competição, Furiosa de George Miller chamou a atenção pelo alto nível da produção e pela inovação a saga Mad Max mas agora sem a presença do ilustre protagonista.

Já o Brasil marcou presença com a vitória - fora da competição - do ator Ricardo Teodoro premiado como ator revelação pelo seu trabalho no filme Baby de Marcelo Caetano. E na competição pela Palma, o aguardado Motel Destino de Karim Aïnouz não agradou a crítica com o seu noir tropical.

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A lista dos vencedores do Festival de Cannes 2024:

Palma de Ouro: Anora (EUA) de Sean Baker
Grande Prêmio do Júri: All We Imagine as Light (Índia) de Payal Kapadia
Prêmio do Júri: Emilia Pérez (México/França) de Jacques Audiard 
Melhor Direção: Miguel Gomes - Grand Tour (Portugal)
Melhor Roteiro: Coralie Fargeat - The Substance (França)
Melhor Atriz: Adriana Paz, Karla Sofia Gascón, Selena Gomez e Zoe Saldanã - Emilia Pérez (México/França)
Melhor Ator: Jesse Plemons - Tipos de Bondade (EUA)
Câmera D´Or (melhor filme de estréia): Armand (Noruega) de Halfdan Ullmamm Tondel
Prêmio Especial: The Seed of the Sacred Fig (Irã) de Mohammad Rasoulof

segunda-feira, maio 20, 2024

Destaques nos cinemas

O DUBLÊ
(The Fall Guy, EUA, 2024) de David Leitch
Aventura. Dublê aposentado retorna a atividade em um filme dirigido por sua ex-mulher mas coisas estranham acontecem na produção.





FURIOSA: UMA SAGA MAD MAX
(Furiosa: A Mad Max Saga, Austrália/EUA, 2024) de George Miller
Ficção cientifica. A origem da misteriosa guerreira Furiosa e como ela conseguiu sobreviver em um mundo apocalíptico.

quarta-feira, maio 15, 2024

Lançamentos nos streamings

UM ANJO EM MINHA MESA
(An Angel at My Table, Austrália/Nova Zelândia, 1990) de Jane Campion
Mubi
Drama. Biografia de umas das escritoras mais importantes da Nova Zelândia, Janet Frame, que teve um passado conturbado.




CEMITÉRIO DO ESPLENDOR

(Rak Ti Khon Kaen, Tailândia, 2015) de Apichatpong Weerasethakul
Mubi
Drama. Uma mulher se torna voluntária para cuidar de um soldado que entrou em estado de hibernação.


GASPARZINHO, O FANTASMA CAMARADA
(Casper, EUA, 1995) de Brad Silberling
Globoplay
Comédia. Psicólogo e sua filha se mudam para uma casa assombrada e neste local a garota faz amizade com um fantasma gentil.



HIROSHIMA, MEU AMOR
(Hiroshima Mon Amour, França/Japão, 1959) de Alain Resnais
Mubi
Drama. Ao participar de um filme em Hiroshima, uma atriz francesa tem um caso com um japonês em uma relação que acende traumas da guerra.



MORTE, MORTE, MORTE
(Bodies, Bodies, Bodies, EUA, 2022) de Halina Rejin
Amazon Prime
Terror. Jovens ricos se isolam numa festa e decidem fazer um jogo que não acaba bem.


OLDBOY
(Coréia do Sul, 2003) de Chan-wook Park
Mubi
Suspense. Após sair de anos de um cativeiro, homem decide vingança contra o responsável por esta situação.

sexta-feira, maio 10, 2024

Guerra Civil

(Civil War, EUA/Inglaterra, 2024)
Direção: Alex Garland
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson.

O presidente dos EUA passa por cima da Constituição e realiza um golpe de estado com a sua terceira reeleição gerando caos e rachando o país. Diante dessa realidade caótica, um grupo de quatro jornalistas de personalidades distintas percorrem de Nova Iorque até Washington e testemunham um país cada vez mais afundado num cenário apocalíptico.
Após o fracasso de Men, o diretor Alex Garland (Ex-Machine) capta a bipolaridade política dos EUA atual (na verdade um cenário mundial) e tenta a volta por cima numa espécie de versão atual e moderno do clássico Apocalipse Now do Francis Ford Coppola. E o diretor foi feliz nesta nova "adaptação" ao inserir uma guerra agora sob o ponto de vista dos jornalistas. E o diretor demonstrou competência a realizar um filme que é pura tensão. Muitos reclamam da falta de clareza sobre os pontos da estória mas eu acho que isso fortalece o seu argumento pois a narrativa defende a neutralidade da imprensa. Como diria um dos personagens: o nosso papel é registrar; a opinião pública é quem vai estabelecer o certo e o errado. Mas é inevitável não associar o seu argumento com a invasão no Capitólio em 2021. Dessa forma, Garland faz uma obra direta e sem maniqueísmo em que o ponto alto é o ótimo som e a sensacional trilha sonora de Ben Salisbury e Geoff Barrow que cria tensão e imprevisibilidade.
Sobre o elenco, confesso que não gostei do papel do Wagner Moura - achei uma personalidade meio forçada e que não gera força na narrativa do filme. Em compensação Cailee Spaeny está ótima como a fotógrafa que amadurece ao testemunhar o show de horrores da guerra. Mas quem rouba a cena é Jesse Plemons na cena mais tensa do filme.
Guerra Civil é um retrato de um mundo que cada vez mais envereda para a diminuição da democracia, e sucumbe para soluções sem sentido da autocracia. Uma realidade tão pertinente aos países pobres que ganha força nos países mais poderosos. Um retrato real de que hoje nem os países civilizados podem não escapar das amarras da autocracia. Guerra Civil é um contundente grito de alerta.

domingo, maio 05, 2024

Dias Perfeitos

(Perfects Days, Japão, 2023)
Direção: Wim Wenders
Elenco: Koji Yakusho, Arisa Nakano, Tokio Emoto, Aoi Yamada.

Hirayama é um senhor que vive numa constante rotina. minunciosamente todos os dias: ele acorda e faz sua higiene pessoal, toma café no carro acompanhado de uma coleção de fitas cassetes com clássicos dos anos de 1960 e 1970. Atua de forma positiva o papel de servente dos banheiros públicos de Tóquio. E nas horas vagas gosta de tirar fotos em um parque, se alimentar em lugares fixos, e no fim do dia ler um bom livro em sua solitude. Mas esse senhor de poucas falas carrega um passado doloroso.
Inicialmente o mestre alemão Wim Wenders faria um documentário sobre os banheiros públicos de Tóquio mas no desenvolvimento do projeto a idéia de um longa-metragem de ficção falou mais alto. E entregou um filme lindo sobre a importância do silêncio, da simplicidade da vida e da boa cultura em um mundo em que o oposto disso tudo está em voga.
Com uma seleção matadora de músicas clássicas da cultura pop, o diretor usa o formato do documentário para dar vida a rotina de Hirayama. E a fotografia de Franz Lustig é de cair o queixo ao jogar uma mistura de cores na vida comum do protagonista. E por falar em protagonista, o ator Koji Yakusho simplesmente arrebenta em uma atuação em que expõe um ser conectado ao seu redor mesmo que dores pessoais surgem em sua consciência.
Dias Perfeitos é uma ode a uma vida simples, ao olhar ao redor de um jeito positivo e também uma visão humana de Tóquio que mesmo com a sua tecnologia e os seus arranha-céus, permite aos seus habitantes  estabelecer o contato do homem com a natureza....e consigo mesmo.

quarta-feira, maio 01, 2024

Reencarnação

(Birth, EUA, 2004)
Direção: Jonathan Glazer
Elenco: Nicole Kidman, Cameron Bright, Danny Huston, Lauren Bacall

Na festa de noivado entre Anna e Joseph, o casal recebe uma visita inesperada de uma criança de 10 anos. Esta chega para Anna com uma notícia inusitada e bombástica: que é a reencarnação de Sean, seu ex-marido que morreu a um bom tempo. De início, Anna não dá bola ao garoto mas o menino se torna uma figura presente em seu dia a dia, o que remexe com o seu luto e sentimentos adormecidos.
Jonathan Glazer é famoso pela frieza e a mão pesada na narrativa de seus dois últimos filmes: Sob a Pele e Zona de Interesse - obras poderosas que causam no público fortes sensações. Mas nos seus primeiros filmes a coisa é um pouco diferente. Sexy Beast e Reencarnação são variantes leves de um cineasta moldando seu estilo. Mas no filme de 2004 o diretor já dava sinais da sua assinatura (mas com um formato mais convencional).
E em Reencarnação, o diretor não foge da polêmica ao sugerir um casal totalmente fora da caixinha composto pela Kidman e o garoto Bright - gerando desconforto ao público pois aos poucos Anna vai se apaixonando pelo menino e criando ilusões perdidas (ou um predadismo pedófilo?!?!). Inevitável - hoje em dia - não associar com Segredos de um Escândalo. Mas se no filme de Todd Haynes mistura suspense com dramalhão; aqui Glazer vai fundo nas emoções de Anna, uma mulher que usa o garoto para extravasar suas emoções contidas.
E os destaques do filme fica para a linda e poderosa trilha sonora de Alexandre Desplat, e a ótima atuação da Nicole Kidman em que o diretor aproveita a voz infantil e o gesto corporal delicado da  atriz para dar vida a uma mulher que ainda não saiu da sua bolha emocional após perder o marido por mais de dez anos.
Pelo título fica a impressão da temática do espiritismo mas Reencarnação foge dessa narrativa. É um filme tocante e sensível sobre seres que escapam da realidade para lidar com sentimentos que não conseguem trabalhar como o luto e o recomeço.