quinta-feira, outubro 10, 2024

A Substância

(The Substance, 2024, EUA/França/Inglaterra)
Direção: Coralie Fargeat
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, Hugo Diego Garcia.

Com uma carreira consagrada no entretenimento, a bela atriz Elizabeth Sparkle entra na espiral da decadência ao atuar num programa de ginástica. Quando chega na marca dos 50 anos de idade, Elizabeth é descartada sem a menor cerimônia da televisão. E desesperada pelo descarte, a ex-estrela decide participar de uma experiência bizarra chamada A Substância. O experimento cria uma espécie de clone do participante mas as coisas perdem o controle quando o criador e a criatura - chamada Sue - se desentendem.
Coragem é uma definição que não falta no impressionante trabalho das cineasta francesa Coralie Fargeat. Em A Substância, a diretora mete o dedo na ferida e - com gosto - sobre temas do universo feminino que vai do etarismo, a obsessão da beleza e fama, o corpo como produto e arrisco dizer na falta de união entre as mulheres. E tudo isso no horror corporal daqueles (que causam uma tremenda repulsa...mas que fascina). É chocante como a diretora conseguiu com maturidade misturar tantos ingredientes e realizar uma obra homogênea. E tudo se encaixa através do ótimo trabalho de som que deixa tudo tenso, a montagem elétrica de Coralie Fargeat, Valentin Feron e Jerome Eltabet que recorda Réquiem Para um Sonho; o design de produção elaborado e que explora cores fortes como vermelho e o branco associado a bela fotografia de Benjamin Kracun que usa a cenografia ao seu favor para criar um mundo perturbador. O rigor técnico do filme lembra o mestre Stanley Kubrick em que a diretora cita de O Iluminado a 2001 - Uma Odisseia no Espaço. Mesmo com elenco ótimo, com destaque a uma atuação tocante da Demi Moore (a cena do espelho é sensacional), o grande destaque fica para a direção ousada de Fargeat. A Substância absorve clássicos literários como O Retrato de Dorian Gray a O Médico e o Monstro; e do cinema ela inclui no pacote o mundo surreal de David Lynch (O Homem Elefante), e explicitamente ao mestre do terror corporal David Cronenberg (A Mosca). E mesmo assim, Fargeat arrisca e faz uma obra em que o tom é fazer o público entrar de cabeça no mundo dos personagens (a começar pela impressionante cena do acidente de carro);  e vai testando os limites do espectador mas sem deixar a peteca cair. Cortes rápidos, movimentos frenéticos, closes fechados. Nada aqui passa despercebido. Sem sombra de dúvida, A Substância é um dos melhores filmes do ano e um dos melhores do gênero do terror desta década.

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