sexta-feira, abril 25, 2025

Festival de Berlim 2025


 

Nos dias 13 a 23 de fevereiro aconteceu o primeiro grande festival do ano, o Festival de Berlim. Nesta edição o festival foi presidido pelo cineasta estadunidense Todd Haynes que premiou o norueguês Dreams (Sex Love) de Dag Johan Haugerud, um drama em que uma aluna se apaixona pela sua professora de piano. Outros destaques são: o mexicano Dreams de Michel Franco em que um bailarino mexicano foge para os EUA em busca de uma melhor oportunidade na dança; o chinês Living the Land de Huo Meng em que relata as mudanças sociais da China a partir da década de 1990; o francês The Ice Tower de Lucile Hadzihalilovic, uma fantasia sobre os bastidores de uma adaptação cinematográfica de A Rainha da Neve; o alemão What Marielle Knows de Frédéric Hambalek em que uma adolescente tem o poder de ler a mente o que desestabiliza os seus pais; o estadunidense Blue Moon de Richard Linklater que relata os bastidores do clássico da Broadway Oklahoma!; o romeno Kontinental '25 de Radu Jude que aborda o sentimento de culpa de um oficial de justiça após o suicídio de um morador de rua; o estadunidense Mikey 17 de Bong Joon Ho, uma comedia sci-fi em que no futuro um soldado tem consciência que o seu corpo serve como experiências do governo; o alemão Islands de Jan-Ole Gerster que conta a estória de um ex-tenista que vive num resort paradisíaco mas que percebe que se encontra num inferno particular; e o canadense Honey Bunch de Madeleine Sims-Fewer e Dusty Mancinelli, um suspense em que uma esposa retorna de um coma e no tratamento de saúde recorda de traumas do casamento.

Já o cinema brasileiro brilhou como nunca ao exibir 12 filmes. E com essa quantidade o destaque ficou para A Melhor Mãe do Mundo de Anna Muylaert que relata mãe e filhos embarcando em uma jornada para fugir de uma vida de abusos. Mas foi o filme do pernambucano Gabriel Mascaro que conquistou o festival com as melhores criticas desta edição - e conquista o Urso de Prata com a ficção O Último Azul em que no Brasil do futuro, uma idosa se aventura na Amazônia antes de ser locada em uma colônia..


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A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2025:

Urso de Ouro de Melhor Filme: Dreams (Sex Love) (Noruega) de Dag Johan Haugerud

Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): O Último Azul (Brasil) de Gabriel Mascaro

Urso de Prata de Melhor DiretorHuo Meng - Living the Land (China)

Urso de Prata de Melhor Interpretação: Rose Byrne - If I Had Legs I'd Kick You (EUA)

Urso de Prata de Melhor Interpretação Coadjuvante: Andrew Scott - Blue Moon (EUA)

Urso de Prata de Melhor Roteiro: Kontinental '25 (Romênia) de Radu Jude

Urso de Prata - Prêmio do Júri: The Message (Argentina) de Iván Fund

domingo, abril 20, 2025

Destaques nos Cinemas

UM DIA DAQUELES

(One of Them Days, EUA, 2025) de Lawrence Lamont
Comédia. Com medo de serem despejados de sua moradia, duas amigas embarcam em uma grande confusão.

terça-feira, abril 15, 2025

Lançamentos nos Streamings

AINDA ESTOU AQUI
(Brasil, 2024) de Walter Salles
Globoplay
Drama. Na turbulência da ditadura brasileira, esposa cuida da família e busca pistas ao desaparecimento de seu marido.


CHICAGO
(EUA, 2002) de Rob Marshall
Netflix
Musical. Jovem cantora mata o marido e o seu caso se torna uma sensação midiática em Chicago.



OS COLONOS
(Los Colonos, Chile, 2023) de Felipe Gálvez Haberle
Max
Drama. Homens são contratados proteger um imenso território e exterminar os índios originais da região.




CONCLAVE
(Inglaterra/EUA, 2024) de Edward Berger
Amazon Prime
Suspense. Após a morte do papa, um cardeal é convocado para a eleição de um novo papa e testemunha a luta pelo poder no Vaticano.


EU VI O BRILHO DA TV
(I Saw the TV Glow, 2024) de Jane Schoenbrun
Max
Terror. Jovem é seduzido por um misterioso programa de TV lhe causando estranhas sensações.



GRAND TOUR
(Portugal, 2024) de Miguel Gomes
Mubi
Drama. Uma mulher busca o ex-noivo que fugiu para o exótico sudeste asiático do início do século 20.


HAIR

(EUA, 1979) de Milos Forman
Mubi
Musical. Antes de lutar na Guerra do Vietnã, jovem conhece e se encanta por um grupo de hippies.

MANCHESTER À BEIRA-MAR
(Manchester by the Sea, EUA, 2016) de Kenneth Lonergan
Netflix
Drama. Jovem perdido é obrigado a enfrentar o seu doloroso passado ao ser o tutor de seu sobrinho.


AS PATRICINHAS DE BERVELY HILLS
(Clueless, EUA, 1995) de Amy Heckerling
Netflix
Comédia. Adolescente popular gosta de ajudar os colegas mas não hora de se ajudar mete os pés pelas mãos.


UM PEIXE CHAMADO WANDA

(A Fish Called Wanda, Inglaterra/EUA, 1988) de Charles Crichton
Mubi
Comédia. As trapalhadas de 04 pessoas que não apresentam nenhum nexo mas que se juntam para realizar um assalto.



PLATOON

(EUA, 1986) de Oliver Stone
Mubi
Guerra. Jovem inexperiente tem todos os seus sonhos destruídos pela insanidade da Guerra do Vietnã.


ROBO SELVAGEM
(The Wild Robot, EUA, 2024) de Chris Sanders
Amazon Prime
Animação. Robô se encontra em uma ilha habitada por animais e se adapta de forma surpreendente a este nova realidade.


SANEAMENTO BÁSICO - O FILME
(Brasil, 2007) de Jorge Furtado
Netflix
Comédia. A população de uma cidade se une para fazer um filme para denunciar a péssima qualidade do saneamento básico da região.



O SHOW DE TRUMAN
(The Truman Show, EUA, 1998) de Peter Weir
Netflix
Comédia. Jovem vive uma vida perfeita até perceber que vive em um programa de televisão.

quinta-feira, abril 10, 2025

Flow

(Letônia, 2024)
Direção: Gints Zilbalodis

No meio da floresta um gato preto testemunha o planeta sendo inundado com um terrível evento climático. Além do gato outros animais tentam desesperadamente sobreviver (e ausência total de seres humanos). E nesta luta, o gato embarca num barco ao lado de um cachorro, macaco, capivara e uma ave. E esta trupe tenta se entender num mundo que virou de cabeça pra baixo mas sem perder a beleza da natureza selvagem.
Após o fim da sessão de Flow fica um sabor delicioso de nostalgia ao recordar os tempos áureos da Pixar em que a criatividade era mais importante do que as cifras das bilheterias. E é de cair o queixo a competência da produção de custo mínimo - e sem diálogos - que usou tudo ao seu favor para da vida a uma brilhante odisseia de um gato em sobreviver em mundo hostil, caótico. Gravidade de Alfonso Cuarón veio a mente na exibição do filme de Gints Zilbalodis. E de quebra o filme tem uma linda trilha sonora de Rihards Zalupe que ajuda ainda mais na imersão do público a aventura e a luta da sobrevivência do protagonista. Aqui, a mítica bíblica da Arca de Noé encontra norte com o importante debate sobre as mudanças climáticas. E assim, Flow serve tanto como comentário ambiental quanto uma interminável e incrível aventura de um gato e seus amigos na luta pela sobrevivência em um mundo caótico mas que tem as suas belezas também em virtude da força desse comunal da natureza.

sábado, abril 05, 2025

O Brutalista

(The Brutalist, EUA/Inglaterra/Hungria, 2024)
Direção: Brady Corbet
Elenco: Adrien Brody, Guy Pierce, Felicity Jones, Isaach de Bankolé.

László Tóth é um renomado arquiteto judeu húngaro que foge para os Estados Unidos após sobreviver o inferno na Segunda Guerra Mundial. E na busca pela segunda chance, e de sua família, ele encontra no caminho oportunidades e decepções na terra das oportunidades. Sua arte brutalista serve como chamariz para a solução dos problemas mas também uma força de atração para as pessoas exploradoras.
Em seu terceiro filme, o diretor  Brady Corbet cai de cabeça em um grande épico e realiza um monumento visual e técnico com destaque para a linda fotografia de Lol Crawley que explora esplendidamente o belo design de produção afinal protagonista é um arquiteto. A trilha sonora de Daniel Blumberg clama pela grandiloquência mas de uma forma mais contida e não rasgada. No entanto, as quase quatro horas de duração pesa na balança e o filme perde fôlego na metade para o fim o que é uma pena pois a primeira parte é espetacular. Mas mesmo assim O Brutalista chama atenção por ser um bonito exemplo do desencanto do sonho americano. Da queda da imagem de um país aberto ao imigrante; mas que no fundo nunca tolerou o diferente. E a presença de Adrian Brody se torna uma curiosidade já que o seu personagem lembra demais o Wladyslaw Szpilman de O Pianista. Até parece que Corbet realizou uma continuação da obra-prima de Polanski. E Brody realmente entrega mais uma atuação visceral ao dar vida a um homem que sonha com uma nova oportunidade mas os traumas terríveis da guerra se tornam demônios interiores difíceis de exorcizar. E se a introdução é incrível ao expor a Estátua da Liberdade totalmente torta (o que seria um indício da sua difícil estadia), o final vira uma bagunça ao incluiu de forma apressada uma conclusão quase didática sobre a vida e obra de László. Mesmo assim, O Brutalista é uma bonita epopeia de almas torturadas que procuram em vão por uma redenção que é apenas uma mera miragem diante de um mundo duro, e armado de concreto.

terça-feira, abril 01, 2025

Emilia Perez

(França/EUA/México, 2024)
Direção: Jacques Audiard
Elenco: Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana, Selena Gomez, Adriana Paz.

A advogada Rita atua em casos polêmicos mas sem levar créditos pelas vitórias (o que não a desagrada pois ela tem vergonha de livrar pessoas corruptas). Com o desânimo profissional, ela recebe uma proposta inusitada: um famoso chefe do tráfico de drogas,  Manitas, lhe faz um acordo para ela organizar algumas ações pois este deseja sair do mundo crime e realizar o sonho de transição de gênero. E com o surgimento de Emília Perez, ambas terão um destino rodeados por sonhos a serem realizados.
Um dos filmes mais aclamados do Festival de Cannes 2024, o musical francês Emília Perez foi para o olimpo da consagração após ganhar dois prêmios significativos na riviera francesa. No entanto, quando entrou no catálogo da Netflix dos Estados Unidos, os problemas da obra de Jacques Audiard iniciaram. Diferente da indústria que abraçou o filme, a popularidade lançou problemáticas que vai desde a falta de representatividade mexicana a exploração do tema da transexualidade. E as declarações desastrosas do diretor e de sua estrela (espanhola) só jogaram mais combustível no incêndio. O que é lamentável pois o filme parece ter sido esquecido. Deixado de lado. E confesso que gostei muito do filme - e compreendo o barulho por parte de nomes fortes do cinema, de James Cameron a Guillermo del Toro. Fugindo da dura realidade mexicana, em particular a violência da América Latina, o diretor foi feliz ao inserir o escapismo dos musicais justamente por não ser um mexicano (ou latino). O diretor lança um olhar curioso sobre a busca da redenção e a criação de mitos de uma forma singular. Me fez recordar de Glauber Rocha ao texto de Dias Gomes do clássico da telenovela brasileira Roque Santeiro.
Mas o filme apresenta problemas como roteiro que apresenta alguns diálogos toscos como na cena em que Selena Gomez demonstra excitação sexual. E por falar dela, sua personagem se torna mais uma distração do que um elemento forte na narrativa. Em compensação chama atenção o ótimo trabalho técnico como a colorida fotografia de Paul Guilhalme (o que se espera de um musical); as canções são boas; e a direção criativa de Jacques Audiard que usa e abusa de ótimos movimentos de câmara, e na mistura de diálogo e música. E a cereja do bolo fica no ótimo duelo entre Zoe Saldana e Karla Sofia Gascón. Aqui elas dão vida a personagens que lutam constantemente e apresentam coragem na busca por uma segunda chance na vida. Enquanto Zoe Saldana surpreende ao dar um peso dramático e canta muito bem, Gascón demonstra uma segurança magistral as mudanças da protagonista. Mesmo com todas as suas qualidades, Emília Perez de musical diferente se se tornou com curioso caso de um filme que alimentou uma rejeição tremenda pela América Latina (que tem a sua razão de existir), somado a uma campanha de divulgação das mais incompetentes nos últimos anos.