sexta-feira, maio 30, 2025

Festival de Cannes 2025


Nos dias 13 a 24 de maio - como nas edições anteriores - iniciou o festival mais importante do mundo (além de charmoso), o Festival de Cannes. Presidida pela atriz francesa (e um símbolo do cinema europeu) Juliette Binoche. Nesta edição, a competição oficial pela Palma de Ouro apresentou uma ótima seleção de filmes em que o tom político foi o seu forte. Já nos bastidores a taxa de 100% do presidente dos EUA, Trump, aos filmes estrangeiros foi uma das pautas principais. o que acabou refletindo na inconsistente seleção de obras estadunidenses que não atraíram os olhos. a exceção foi Die, My Love de Lynne Ramsay, e Highest 2 Lowest de Spike Lee. Resultado: Hollywood saiu de mãos abanando na Riviera francesa. Assim, o júri focou em produções de vários cantos do mundo, e Binoche e companhia realizaram uma das premiações mais sensatas nos últimos anos. A palma de ouro caiu nas mãos do iraniano Um Simples Acidente de Jafar Panahi. Aqui, outro cineasta caçado pelo governo de seu país, e aborda o autoritarismo desenfreado do Irã. Outros destaques do festival: Sentimental Value (Noruega), um comovente drama familiar de Joachim Trier; Nouvelle Vague (França), a homenagem de Richard Linklater ao mitológico bastidores de Acossado; Sirat (Espanha), uma rave cheia de energia e loucura de Oliver Laxe; Two Prosecutors (Ucrânia) e o pesadelo do autoritarismo soviético de Sergei Loznitsa; e Sound of Falling (Alemanha), um perturbador drama feminista de Mascha Schilinski.

Mas sem dúvida nenhuma, o Brasil atraiu os olhares com a nova e consagradora obra do mestre pernambucano Kleber Mendonça Filho. Ao som de frevo, o thriller político O Agente Secreto passou como um furação e atraiu a atenção da critica mundial, e principalmente do júri do festival. Mesmo que não tenha ganha o prêmio máximo - em compensação - o filme ganhou dois importantíssimos prêmios: a de melhor ator para Wagner moura, e de melhor diretor. Duas categorias que chama a atenção de qualquer cartaz, e com certeza será uma das atrações do cinema mundial no daqui pra frente. E sai de Cannes com munição pra fazer bonito na próxima temporada de premiação. E reforçando o ano espetacular que o cinema brasileiro está vivendo.

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A lista dos vencedores do Festival de Cannes 2025:

Palma de Ouro: Um Simples Acidente (Irã) de Jafar Panahi
Grande Prêmio do Júri: Sentimental Value (Noruega) de Joachim Trier
Prêmio do Júri: Sirat (Espanha) de Oliver Laxe e Sound of Falling (Alemanha) de Mascha Schilinski
Melhor Direção: Kleber Mendonça Filho - O Agente Secreto (Brasil)
Melhor Roteiro: Jean Pierre e Luc Dardenne - The Young Mothers´s (Bélgica)
Melhor Atriz:  Nadia Melliti - The Little Sister (França)
Melhor Ator: Wagner Moura - O Agente Secreto (Brasil)
Câmera D´Or (melhor filme de estréia): The President´s Cake (Iraque) de Hasan Hadi
Prêmio Especial: Resurrection (China) de Bi Gan

terça-feira, maio 20, 2025

Destaques nos Cinemas

HOMEM COM H

(Brasil, 2025) de Esmir Filho
Drama. Cinebiografia de um dos maiores e mais transgressores artistas que o Brasil teve: Ney Matogrosso.



MEMÓRIAS DE UM CARACOL

(Memoir of a Small, Austrália, 2024) de Adam Elliot
Animação. Jovem de passado cruel rever a sua vida graças a amizade com uma senhora cheia de vida.



OS ENFORCADOS

(Brasil, 2025) de Fernando Coimbra
Suspense. Casal vive uma relação saudável mas o passado de um deles esta prestes a destruir essa harmonia.



MANAS
(Brasil, 2025) de Marianna Brennand
Drama. Uma adolescente luta para fugir da miséria e violência da Ilha de Marajó com o desejo de uma vida mais digna.

quinta-feira, maio 15, 2025

Lançamentos nos Streamings

BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)
(EUA, 2015) de Alejandro González Iñárritu
Netflix
Drama. Cultuado ator tenta dar a volta por cima em uma tumultuada peça da Broadway.


HEREGE
(Heretic, Inglaterra, 2024) de Scott Beck e Bryan Woods
Amazon Prime
Terror. Duas garotas missionárias tem a sua fé testada por um perturbado senhor.



O HOMEM QUE COPIAVA
(Brasil, 2003) de Jorge Furtado
Netflix
Comédia. Jovem humilde se apaixona por uma vizinha e faz de tudo para chamar a atenção da nova paixão.



LONGLEGS - VÍNCULO MORTAL
(EUA, 2024) de Osgood Perkins
Amazon Prime
Suspense. Jovem agente do FBI tenta desvendar a identidade de um serial killer que está aterrorizando uma pequena cidade.


MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO
(Bridesmaids, EUA, 2012) de Paul Feig
Netflix
Comédia. Mulher fica apavorada quando a sua melhor amiga lhe convida para ser a sua madrinha de casamento.



SARTUDAY NIGHT LIVE - A NOITE QUE MUDOU A COMÉDIA
(EUA, 2024) de Jason Reitman
Max
Comédia. Jovens comediantes tem a inédita missão de realizar um programa de comedia na TV ao vivo.


TRÊS HOMENS EM CONFLITO
(Il Bruono, Il Brutto, Il Cattivo, Itália, 1966) de Sergio Leone
Mubi
Faroeste. Três homens procuram uma grande quantidade de dinheiro no meio da Guerra Civil Americana.



UM HOMEM DIFERENTE

(A Different Man, EUA, 2024) de Aaron Schimberg
Mubi
Drama. Após realizar procedimento estéticos em virtude de uma doença, jovem ator vive um pesadelo com o novo visual.



WICKED
(EUA, 2024) de Jon M. Chu
Amazon Prime
Musical. Jovem retraída descobre ser uma poderosa bruxa mas que o seu dom pode transformar o mágico Oz.

sábado, maio 10, 2025

Oeste Outra Vez

(Brasil, 2024)
Direção: Érico Rassi
Elenco: Angelo Antônio, Babu Santana, Rodger Rogério, Daniel Porpino.

Toto é o dono de uma simples mercearia é uma região miserável do interior de Goiás. Mas a sua rotina muda em virtude de uma sede de vingança após a sua companheira trocá-lo por outro homem chamado Durval. Toto jura ao inimigo que a sua morte foi encomendada ponto e assim, a emboscada inicia entre os dois homens na luta pela sobrevivência.
Faroeste é um gênero de Hollywood por excelência mas que sempre atraiu cineastas de vários pontos do mundo: do japonês Kurosawa ao italiano Leone. E se os gênero ganhou um novo fôlego chamado neo-western entre as décadas de 2000 a 2010 com sucesso como Onde os Fracos Não Tem Vez e A Qualquer Custo - um cineasta de Goiás ousa a utilizar elementos clássicos desse gênero e realiza uma das obras mais originais e divertida dos últimos anos do cinema brasileiro. Em Oeste Outra Vez, Érico Rassi (diretor de outra obra que bebe no faroeste, Comeback) convida o público a embarcar em um universo tão insólito ao expor a vulnerabilidade do homem diante do empoderamento feminino. Não é para menos que o único momento em que mostra uma mulher no filme, a atriz Tuanny Araújo  aparece desfilando - e pouco se lixando a violência dos seus parceiros. 
Oeste Outra Vez retrata uma região árida, seca, lindamente fotografado por André Carvalheira que reflete o ódio e desespero de homens que recusam a solidão. As cenas noturnas podem atrapalhar a imersão na história mas tem uma justificativa: o ego segue dos protagonistas. Os personagens masculinos poderiam cair na caricatura facilmente mas o roteiro fantástico trata com humanidade homens com bastante testosterona mas que não aceitam a realidade. Toto e Durval são dois tolos passionais que lutam por uma mulher que já virou a página (e provavelmente está em outra relação). Assim, o pistoleiro/jagunço Jerominho rouba cena ao representar a consciência e o absurdo de sua missão; e que revela o seu triste e doloroso passado no timing perfeito de Rodger Rogério que oscila entre melancolia e humor com propriedade. 
O filme brinca com o tempo em que se passa a história pois os personagens e o próprio lugar parece ter parado no tempo em que os atuais celulares e um antigo orelhão convivem juntos. Dá a impressão de um lugar abandonado o que reflete a carência dos protagonistas. Mas o ponto alto é o seu surpreendente senso de humor. Érico Rassi não tem vergonha de expor o ridículo de homens criando um jogo de violência por pura infantilidade. Assim, o filme se assemelha a outra obra-prima dos irmãos Coen, Fargo (que tem um DNA no neo-western). 
Outra descoberta deliciosa é como os clássicos da música brega (e bastante presente no filme) recordam o estilo do mestre Ennio Morriconi, o que só aumenta o charme e também aproxima o público a este mundo abandonado. 
Oeste Outra Vez dosa com perfeição a violência, a truculência de corações partidos associado a um senso de absurdo em um universo hostil e tremendamente viril. Uma baita surpresa do cinema brasileiro 

segunda-feira, maio 05, 2025

Mickey 17

(EUA/Coréia do Sul, 2025)
Direção: Bong Joo Ho
Elenco: Robert Pattinson, Mark Ruffalo, Toni Collette, Naomi Acke.

No futuro, um homem chamado Mickey tenta fugir da Terra e embarcar numa missão espacial. No entanto, ele não esperava participar de um experimento de um político, Kenneth Marshall,  com sede de imperador em que se tornará um "descartável". Esta função tem a finalidade de realizar missões suicidas em um outro planeta pois Marshall decide habitar um planeta com a sua corja. Mas após morrer, uma tecnologia imprime um corpo e implanta suas memórias para ressuscitá-lo. E isso acontece 17 vezes até surgiu um fato inesperado.

Após o sucesso avassalador de Parasita, o próximo projeto de Bong Joo Ho cai de cabeça no estilo consagrado do diretor: uma crítica ao capitalismo com um senso de humor e crítico desconcertante. e também retorna numa linguagem tipicamente do sistema coreano atual de usar a criatividade ao explorar diversos elementos com bastante unidade. Mas é neste ponto o grande calcanhar de Aquiles de Mickey 17. Se a primeira parte é uma maravilha ao abordar o homem como um ser descartado em um sistema cruel - e estritamente atual - o que levanta tópicos que vai da política a filosofia. Já a segunda parte engata outros temas com colonialismo à lá Avatar mas de uma forma bagunçada. O que é uma pena. Mesmo assim a produção é de encher os olhos em que a trilha sonora sensível de Jaeil Jung chama atenção (incluindo o uso de um delicado tango). Outro ponto positivo é o ótimo elenco em que Mark Ruffalo está hilário como um Donald Trump sem noção - o que dialoga com a nossa atualidade, infelizmente. Mas é Robert Pattinson que rouba a cena ao impor um  trabalho minucioso e delicado ao dar vida a um ser que deseja com força fugir de um destino que parece sempre tapear.
Mickey 17 é uma sátira futurista irregular que conversa com o mundo atual em que a humanidade é cada vez mais descartada perante uma sociedade ideal...que não existe.

quinta-feira, maio 01, 2025

Um Completo Desconhecido

(A Complete Unknow, EUA, 2024)
Direção: James Mangold
Elenco: Timothée Chalamet, Edward Norton, Ellen Fanning, Monica Barbaro.

No início da década de 1960, um jovem desconhecido chamado Bob Dylan chega em uma Nova Iorque que fervilha culturamente em virtude das mudanças do período. Assim, o cantor vira um queridinho da música tradicional dos EUA, e tendo a sua carreira moldada e controlada por seus pares. Esse controle não é bem visto pelo jovem astro que decide se rebelar contra um sistema que parecia ser flexível. Ao mesmo tempo revela um rapaz extremamente passional ocasionando em relacionamentos amorosos que tendem ao fracasso.
A maturidade de um gênio. Um Completo Desconhecido é um drama convencional e protocolar de James Mangold que surpreende ao focar os conflitos de um artista que lida com intensidade as suas decisões autorais e uma vida particular atribulada e passional. Mangold não tem medo de expor um cantor e suas imperfeições mas que demonstra ser um autor dono de sua própria carreira. Aqui Dylan encontra o cenário perfeito para quebrar as amarras da indústria musical e que para isso inevitavelmente afetou e machucou os mais próximos. Um Completo Desconhecido demonstra com sensibilidade à luta de um artista sendo autêntico com a sua voz, e sua genialidade. E o ator Timothée Chalamet simplesmente arrasa no icônico papel ao impor a voz e visual marcante e característico de Dylan - além de imprimir com talento a força e a vontade de fazer o que quiser. E serve como bom contratempo a outra biografia do mestre do cancioneiro estadunidense, "Não Estou Lá" de Todd Haynes, em que fez uma obra mais artística e fora da caixinha. Mas vale conferir o filme de Mangold; é uma delícia de assistir e ouvir nos cinemas os clássicos de Dylan do início de carreira.