
“Em terra de cego, quem enxerga é amaldiçoado por testemunhar o caos e a barbárie da humanidade”. Esse é o dilema do sufocante trabalho de Fernando Meirelles, adaptação do clássico português de José Saramago. Fiel a obra lusitana, o filme mostra uma inacreditável mas plausível inversão de valores – afinal, a mulher do oftalmologista enxerga tudo, mas aceita se fazer de cega para não sofrer represárias; enquanto os cegos desde de nascença, ou antes da epidemia presente, mostram o controle absoluto sobre a situação, fazendo o bem ou mal (dependendo da sua conduta moral).
Com um elenco eclético (de astros de Hollywood a atores renomados de várias nacionalidades) que têm uma boa atuação mas nada marcante; o destaque vai para a gélida fotografia que exerce perfeitamente o papel de incomodar a visão do público, causando a sensação da cegueira branca. Chama a atenção também a instrumental trilha sonora, afinal os cegos tem uma audição apurada.
Enfim, a obra acaba de virar para o avesso o famoso provérbio “se em terra de cego, quem enxerga é rei”. O que Saramago quis dizer é que o que importa de verdade é a nossa conduta ética, mesmo que a gente enxergue ou não a nossa realidade.
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