

Assistir ao primeiro filme de Luíz Fernando Carvalho não é uma experiência fácil. Longo, lento e um texto extremamente poético, a adaptação do livro de Raduan Nassar é uma das obras mais viscerais que o cinema nacional apresentou recentemente. Com uma linguagem que explora prosas, poemas - nada de diálogos reais, naturais - a obra tem um tom extremamente teatral que pode incomodar muita gente. Mas o filme é uma aula de produção técnica. Tudo está no seu devido lugar. E o que faz a diferença são as idéias ousadas do diretor, que deixou bem claro que fez o filme do jeito que queria, pois a obra transborda personalidade (em certos momentos, o filme me fez lembrar o lindo trabalho da diretora Jane Campion em O Piano). Luíz Fernando Carvalho cria imagens belíssimas, como a cena do lago, e também a emocionante conversa entre o pai e André após o seu retorno. Mesmo que as vezes o filme exagere na teatralidade, o seu enredo me chamou a atenção por lembrar o livro O Apanhador no Campo de Centeio de J. D. Salinger, em que tanto Holden como André estão soltos num mundo em busca de uma resposta para o seu inconformismo. Mas também mostra o sufocamento que relações familiares extremas (o autoritarismo do pai versus o amor incondicional da mãe versus a paixão pela própria irmã) podem causar.
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