terça-feira, dezembro 07, 2010

Maurice


Maurice é uma obra que surpreende por não cair no lugar comum. Retrando um período altamente conservador, melhor, castrador da sociedade inglesa. O livro de E. M. Foster chama a atenção por mostrar o personagem principal, Maurice, um ser extremamente passional que largaria tudo em nome de um amor, que não tem vergonha dos seus impulsos. Mas a paixão não tem endereço fixo e recai justamente em Clive, rapaz de linhagem nobre, que estuda na mesma universidade que Maurice. De início, tudo são flores, mas no decorrer da relação o preconceito, os valores morais e principalmente o fato de ser homosexual na Inglaterra é motivo de prisão por atentado a pudor, além da desmoralização perante a sociedade, torna a relação num risco eminente para ambos. Assim, Clive decide dar um basta e acaba casando com uma moça abastada. E Maurice, desesperado, tenta dar um fim ao sofrimento causado pelo pé na bunda de Clive. Mas se o filme parece em encontro a tragédia e ao dramalhão, inusitadamente, faz um raio-x da impocrisia de um país que como diria um personagem: "a Inglaterra não suporta a complexa natureza humana".
Publicado logo após a morte de seu autor, em 1970, Maurice não gera mais tanta polêmica nos dias atuais, mas representa muito bem o sufocamento da sociedade sobre as relações humanas, algo que o diretor americano (ironicamente) James Ivory fez tão bem em outras adaptações do mesmo autor como Uma Janela Para o Amor e Retorno a Howard´s End. Mostrando domínio absoluto na narrativa e classe no ritmo e movimentos de câmera, além de um design de produção caprichado, marca do diretor, Maurice é mais uma prova que com menos se faz mais em relação ao aspecto de produção. Com um elenco impecável, onde surgia brilhar um novinho Hugh Grant que ganhou o Leão de Ouro de melhor ator no Festival de Veneza de 1987. Maurice é uma prova viva da evolução de uma sociedade que aos poucos se tornou menos tolerante, mas que tem muito a evoluir sobre a condição humana.

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