quarta-feira, outubro 05, 2016

Aquarius

(Brasil, 2016)
Direção: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Sonia Braga, Irandhir Santos, Humberto Carrão, Maeve Jinkings

Dando continuidade ao ótimo O Som ao Redor (2012), o diretor Kleber Mendonça Filho continua afiado e expande os temas explorados na sua obra anterior, as relações sociais do Brasil atual (e extremamente urbano) e vai fundo a respeito da memória (a linda abertura recordando uma festa em 1980), solidão, e por último a especulação imobiliária (que ganhou conotação política óbvia com o cenário político de 2016). E diante de uma gama de temas, o diretor fez vários filmes em um só (dividido em três partes) o que de início causa um estranhamento mas depois as coisas vão fluindo, mostrando um amadurecimento impressionante do artista citado. A primeira parte é uma crônica social; a segunda parte embarca para a solidão soturna; e a última parte a via Crucis da personagem principal, Clara, uma jornalista aposentada e única residente de um decadente prédio chamado Aquarius que é constantemente assediada por uma construtora que precisa que a mesma saia do prédio para a realização de um novo empreendimento no local.
Com unhas e dentes, Sonia Braga volta com tudo em uma das personagens mais fortes que o cinema brasileiro criou nos últimos tempos: viúva, vitima de um câncer de mama (o que assusta os homens na hora de arranjar uma relação), o papel de mãe e avó, e no fim ainda tem um espaço na agenda para brigar com a construtora que inferniza a sua vida. E o diretor ainda tem tempo para cutucar a tudo e a todos sobre a "nova" classe média brasileira - o empoderamento da elite (todo mundo tem ligação com alguém influente ampliando o controle em vários meios), a relação patrão e empregado ("nós exploramos as empregadas domésticas, e elas nos roubam" diz uma parente de Clara, e a emancipação feminina (diferentes dos filhos homens, a única filha de Clara, pertencente a nova geração, ao invés de apoiar a independência e a atitude da mãe, critica a sua postura demonstrando um certo conservadorismo). No fim o diretor faz um belo trabalho que expõe os velhos vícios da nossa sociedade mas ainda assim é capaz de mostrar um povo que continua a seguir em frente diante das dificuldades - e isso fica bem registrado na ótima trilha sonora.

Nenhum comentário: