domingo, novembro 10, 2024

O Mal Não Existe

(Aku Wa Sonzai Shinai, Japão, 2023)
Direção: Ryusuke Hamaguchi
Elenco: Hitoshi Omika, Ryuji Kosaka, Ayaka Shibutani, Roy Nishikawa.

Num povoado rural perto de Tóquio, os seus moradores levam uma vida pacata e totalmente dependente da bela floresta que os envolve. Mas a chegada de um empreendimento imobiliário quebra a rotina do lugar e gera desconfiança dos habitantes. Um deles é Takumi, um homem que conhece profundamente a região mas que tem uma relação distante com a sua filha de 8 anos.
Confesso que não sou um grande fã entusiasta de Drive My Car, a obra mais conhecida de Ryusuke Yamaguchi. Por isso que fiquei surpreso com seu filme posterior, O Mal Não Existe. Aqui, o diretor foca na relação homem natureza de uma forma muito particular. Com um ritmo pausado, o filme está longe de ser enfadonho graças as lindas imagens registradas pela bela fotografia de Yoshio kitagawa e a delicada trilha sonora de Eiko Ishibashi. É evidente a inspiração de Akira Kurosawa e Andrei Tarkovski (mestre em retratar a beleza da natureza). Outra coisa: com certeza o seu orçamento deve ter sido baixo por ser filmado quase que inteiramente numa floresta. Ironicamente a cena mais intensa é numa reunião entre os moradores e a construtora (em que esta é humilhada diante da desconfiança dos moradores). Assim, a obra toca na desumanização do progresso mas a força vem mesmo da relação harmoniosa entre os moradores e a natureza a sua volta. Isso fica evidente na cena em que o dono da construtora não mostra remorso com as pessoas. Uma pena que isso é retratado de uma forma novelesca (o que destoa do restante do filme). Mas em compensação, o final enigmática e esplêndido e reforça toda a cinematográfica de um dos grandes cineasta do momento. Um primoroso trabalho que aborda sustentabilidade ambiental com uma sensibilidade impressionante.

terça-feira, novembro 05, 2024

O Aprendiz

(The Apprentice, Canadá/Dinamarca, 2024)
Direção: Ali Abbasi
Elenco: Sebastian Stan, Jeremy Strong, Maria Bakalova, Martin Donovan.

Na década de 1970, um desconhecido mais herdeiro de uma família rica, Donald Trump, tenta contratar o controverso advogado Roy Cohn para livrar uma dívida da empresa de seu pai. Dessa inusitada união (um playboy ambicioso e um gay abominável) surge um casamento público em que um decola com a sua ambição desenfreada (Trump) e o outro sofre das reviravoltas da vida (Roy).
Nunca imaginaria que o cineasta iraniano Ali Abbasi faria uma biografia da tenebrosa figura do Donald Trump - mas assistindo ao ótimo Holly Spider, o trabalho antecessor de Abbasi, o contexto faz um certo sentido. Se o filme de 2023 o diretor faz um thriller dramático sobre um Estado que encobre e incentiva a ação de um psicopata em limpar sua cidade das prostitutas; em O Aprendiz algo semelhante acontece. De certa forma, o fechado Irã se iguala ao show de horrores da ascensão do famoso magnata na terra das oportunidades, Estados Unidos. Em O Aprendiz, o Trump é uma figura que surge e se aproveita ao máximo de um Estado corrupto e sem escrúpulos representado pela  figura abominável de Roy Cohn. Roy e Trump formam um par perfeito que aproveitam de uma nação benevolente ao capitalismo selvagem não muito longe de países de pobres. Quem diria que Irã e Estados Unidos se encontraria na mesma vertente. Mas se em Holly Spider o clima soturno impera, O Aprendiz a galhofa toma conta. A câmera na mão criam o  tom real mas o humor involuntário reina ao mostrar o absurdo como no hilário encontro de Trump com um desconhecido artista, Andy Whahol, numa festa nada conservadora. Assim, a fotografia com ar da década de 1970 de Kasper Tuxen Andersen contribui ao misturar a ficção com cenas reais de uma decadente Nova York. E o elenco chama atenção como a ótima caracterização do ator do momento, Sebastian Stan, que recria os maneirismos e a voz do Trump mas de forma natural e convincente. Mas é Jerome Strong que rouba a cena como tenebroso Roy. O versátil ator da famosa série Succession combina uma persona dura mas com uma certa sensibilidade, mesmo sendo uma figura execrável, e que no fim é vítima do seu próprio veneno (será que o Trump terá o mesmo destino?). E no fim da exibição do filme demonstra que a política estadunidense não anda tão longe de países não tão poderosos, o que demonstra como o mundo sócio-político-econômico atual as fronteiras entre as nações tão diferentes se aproximam. Aqui, o diretor realizou uma espécie de Frankstein moderno em que a criatura usa todas as falhas éticas e morais de uma sociedade para o seu bem prazer. E como nas últimas cenas finais (na sala de cirurgia), o protagonista se transforma em uma criatura que todos conhecemos.

sexta-feira, novembro 01, 2024

Robô Selvagem

(The Wild Robot, EUA, 2024)
Direção: Chris Sanders

Acionado sem querer, um robô é ligado, e descobre que se encontra em uma ilha não habitada por humanos - mas infestada da natureza selvagem. E adentrando pela região, o robô procura uma missão por ser programado a executar tarefas. E inusitadamente ele acha uma missão ao ensinar um ganso órfão a sobreviver. A relação entre o animal e máquina aflora no robô uma sensação até então desconhecida: o amor ao próximo.
A DreamWorks prega cada peça. Em virtude da produção em massa em animação, é comum a irregularidade na qualidade das produções. No caso da produtora de Shrek, a irregularidade surgia mais por causa das continuações caça-níqueis. Não é de espantar que a sua nova produção, Robô Selvagem, surpreenda. Sob o comando do competente Chris Sanders (Lilo & Stitch, Como Treinar o Seu Dragão), a animação alcança vôo admirável nesta linda adaptação do livro de Peter Brown. Fácil, fácil que esta seja a obra-prima de Chris Sanders, que mistura belíssima animação e um roteiro carregado de emoção. Na missão da robô Roz, a obra aborda humanismo, maternidade a criação da consciência coletiva (ok, uma inteligência artificial atingindo esse feito causa medo atualmente mas que no filme fica fofinho). E tem uma mensagem muito forte sobre resposanbilidde social que lembra - inevitalmente - A Revolução dos Bichos de George Orwell. Outro ponto positivo é a bela trilha sonora de Kristopher Bowers com os seus acordes sensíveis mas sem soar melodramático. Linda também a canção do filme, Kiss the Sky. Enfim, Robô Selvagem nasce como um sopro de vida que a muito tempo que a DreamWorks não sentia. E não se espante se o filme ganhar continuações. E o pre;o a pagar pelo sucesso de uma ideia original. Por enquanto é bom aproveitar o gosto de uma bela novidade.