terça-feira, novembro 05, 2024

O Aprendiz

(The Apprentice, Canadá/Dinamarca, 2024)
Direção: Ali Abbasi
Elenco: Sebastian Stan, Jeremy Strong, Maria Bakalova, Martin Donovan.

Na década de 1970, um desconhecido mais herdeiro de uma família rica, Donald Trump, tenta contratar o controverso advogado Roy Cohn para livrar uma dívida da empresa de seu pai. Dessa inusitada união (um playboy ambicioso e um gay abominável) surge um casamento público em que um decola com a sua ambição desenfreada (Trump) e o outro sofre das reviravoltas da vida (Roy).
Nunca imaginaria que o cineasta iraniano Ali Abbasi faria uma biografia da tenebrosa figura do Donald Trump - mas assistindo ao ótimo Holly Spider, o trabalho antecessor de Abbasi, o contexto faz um certo sentido. Se o filme de 2023 o diretor faz um thriller dramático sobre um Estado que encobre e incentiva a ação de um psicopata em limpar sua cidade das prostitutas; em O Aprendiz algo semelhante acontece. De certa forma, o fechado Irã se iguala ao show de horrores da ascensão do famoso magnata na terra das oportunidades, Estados Unidos. Em O Aprendiz, o Trump é uma figura que surge e se aproveita ao máximo de um Estado corrupto e sem escrúpulos representado pela  figura abominável de Roy Cohn. Roy e Trump formam um par perfeito que aproveitam de uma nação benevolente ao capitalismo selvagem não muito longe de países de pobres. Quem diria que Irã e Estados Unidos se encontraria na mesma vertente. Mas se em Holly Spider o clima soturno impera, O Aprendiz a galhofa toma conta. A câmera na mão criam o  tom real mas o humor involuntário reina ao mostrar o absurdo como no hilário encontro de Trump com um desconhecido artista, Andy Whahol, numa festa nada conservadora. Assim, a fotografia com ar da década de 1970 de Kasper Tuxen Andersen contribui ao misturar a ficção com cenas reais de uma decadente Nova York. E o elenco chama atenção como a ótima caracterização do ator do momento, Sebastian Stan, que recria os maneirismos e a voz do Trump mas de forma natural e convincente. Mas é Jerome Strong que rouba a cena como tenebroso Roy. O versátil ator da famosa série Succession combina uma persona dura mas com uma certa sensibilidade, mesmo sendo uma figura execrável, e que no fim é vítima do seu próprio veneno (será que o Trump terá o mesmo destino?). E no fim da exibição do filme demonstra que a política estadunidense não anda tão longe de países não tão poderosos, o que demonstra como o mundo sócio-político-econômico atual as fronteiras entre as nações tão diferentes se aproximam. Aqui, o diretor realizou uma espécie de Frankstein moderno em que a criatura usa todas as falhas éticas e morais de uma sociedade para o seu bem prazer. E como nas últimas cenas finais (na sala de cirurgia), o protagonista se transforma em uma criatura que todos conhecemos.

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