sexta-feira, março 04, 2011

Anticristo

O caos reina tudo. Eis a frase que envoca esse trabalho que reflete bem o estilo do diretor Lars Von Trier ao explorar o gênero de terror: o sacrifício da mulher; o homem racional querendo transformar a situação da amada em cobaia de experiência científica (Dogville); é recheado de cenas fortes, pesadas; o ódio a humanidade. Só senti falta de um final impactante, mas em compensação o diretor esbanja um vigor em criar lindas cenas. Vendo o filme, vi que o horror vem de nós mesmo, de uma natureza que não compreendemos e não adianta compreender. Somos complexos, irracionais, e em algumas situações encaramos os três mendigos: dor, desespero e luto; melhor, raposa, veado e corvo na concepção da natureza. O que torna o trabalho do Von Trier interessante é que a história bebe muito da Biblia: o casal (homem e mulher, melhor, uma espécie de Adão e Eva) volta a floresta - que se chama Éden - para expulgar uma situação dilacerante, a morte do filho. Mas o diretor mostra o terror na forma que não estamos acostumados a ver, já que no cinema americano o terror resumi-se ao susto, ao medo do sobrenatural. O filme está mais na linha de Polanski de Repulsa ao Sexo, em que mais uma vez uma mulher enlouquece mostrando o terror do nosso subconsciente. Se no primeiro tempo, somos encantados por lindas imagens: a abertura de cair o queixo, as cenas da hipnose em que a mulher imagina andando na floresta simplesmente parecem um quadro de tão belos. Já a segunda parte mostra a que veio, o inferno a dois, um mundo que não adianta entender. O diretor quis dizer que somos passionais a tudo, não adianta sermos racionais, pensativos...as vezes somos loucos, sem noção. Mas será que quando perdemos tudo...como o filho no caso do filme, perdemos a vontade de tudo? Através do filme penso que dar a volta por cima é um processo tão doloroso quanto ainda ficar nesse estado. É um filme de muitos significados, mas mostra que diante da natureza que nos rodeia, a nossa natureza interior é tão bela, caótica, pertubadora, imperfeita.

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