sábado, abril 09, 2011

A Mentira


A Mentira é uma verdadeira surpresa. Sob a pele de filme pop adolescente atual, em que servem de veículos para estrelas da televisão americana como a Hannah Montana, irmãs Olsein e Amanda Bynes (que está presente neste filme) lançarem moda entre as adolescentes de tal maneira como High School Musical, produtos comerciais cheios de boas intenções e moralismo politicamente correto. Em conta da presença de Amanda Bynes no elenco de A Mentira, tava esperando uma bobagem adolescente. Pois o meu queixo caiu ao ver este filme. Nunca imaginaria que o diretor Will Gluck fizesse uma obra tão rica e subversiva sobre os teen movies (filmes de adolescente). Mas Gluck não se baseou nos filmes pop atuais e sim faz uma bela homenagem ao grande cineasta desse tipo de gênero: John Hughes. E acredite, o filme tem uma pitada de surrealismo e um quê de Lars Von Trier (não, eu não puxei fumo!). A estória: Olive Penderghast é uma garota inteligente e comum, daquelas que não chamam atenção de ninguém. Mas para sair do marasmo, a garota inventa uma estória e diz a sua melhor amiga, Rhiannon, que está saindo com um amigo de um irmão. Pressionada para maiores detalhes, Olive mente dizendo que não é mais virgem. Em questão de segundos, a mui amiga espalha a notícia para a escola inteira, causando o maior frisson. Como a escola é baseada em valores morais conservadores, Olive vira a sensação do momento. Diante de tanta atenção, a garota se vislumbra com a fama e não se importa com a veracidade dos acontecimentos. Com a má fama, ela é procurada por um colega que quer fazer um trato com ela: espalhar a todos que transaram para ele esconder a sua homossexualidade. Trato feito, trato cumprido. Aos poucos, outros colegas (gordos, nerds, freaks) pedem uma mãozinha a Olive, melhor, que desse autorização para espalhar por toda a escola que já passaram dos “limites” com ela. Com a chuva de boatos, Olive vira a vadia da escola, e ao aceitar esse papel ela perceberá a mesquinharia das pessoas. Avaliando o tom da estória, Olive é, de certa forma, uma santa adolescente que aceita se prostituir de mentirinha para ajudar os seus coleguinhas menos favorecidos (em outras palavras, não populares) que vivem sufocados em um ambiente regido por normas moralizantes. Luis Buñuel ficaria orgulhoso com um enredo desses. É óbvio que Olive me lembrou por demais as heroínas sacrificadas de Lars Von Trier como a Bess de Ondas do Destino, Selma de Dançando no Escuro e Grace de Dogville. Outro ponto importante é o senso de humor e inteligente de Olive, que ganha força com a boa atuação de Emma Stone (ela lembra a Liv Tyler). A empatia é tanta que é impossível você não gostar dela, o que remete aos filmes de John Hugues tipo Ferris de Curtindo a Vida Adoidado a Andie de A Garota de Rosa-Choque (em todo o filme, Olive conversa com o público através do seu blog, da mesma maneira que Ferris conversa com a câmera). Olive é uma espécie de Juno, mas sem forçar a barra para dizer que é cool, um ponto negativo da obra de Jason Reitman. O filme também faz uma homenagem ao clássico da literatura A Letra Escarlate e ainda tira onda com a versão cinematográfica de Rolland Joffé, com a péssima atuação de Demi Moore.

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