segunda-feira, dezembro 05, 2011

O Palhaço



Muita gente deve imaginar que o filme O Palhaço seja uma comédia rasgada, bem popular. No entanto, o filme de Selton Mello é um drama leve e sensível sobre um homem deslocado (Benjamim, que vive o palhaço Pangaré) que perdeu o sentido da vida (e da graça) e procura desesperadamente por uma identidade (por ironia, nem carteira de identidade o coitado tem!). E a falta do RG é um sinal de que alguma coisa está fora dos trilhos, então ele tenta cair na estrada novamente – já que ele vive viajando no seu circo – e tentar alcançar o seu grande objetivo: comprar um ventilador (o que é difícil pois o produto é caro, e para pagar em prestações é necessário a carteira de identidade, taí o drama do rapaz).
Como Benjamim, Selton brilha como o palhaço que faz todo mundo rir, mas que não tem ninguém para deixá-lo sorridente. Com essa informação, o protagonista se mostra amargo, o que pode representar o estilo do diretor, já que o primeiro trabalho dele na direção é o denso e triste por excelência, Feliz Natal (2008). Mas aqui dá pra notar um pouco das comédias sentimentais italianas dos anos 50. Com uma deliciosa trilha sonora de Plínio Profeta e um ótimo desenho de produção (o filme se passa nos anos 70), o que me chama mais a atenção são as participações especiais de artistas que marcaram os anos 70 como Ferrugem, Tonico Pereira e principalmente Moacyr Franco como o delegado obcecado pelo seu gato. A cena da delegacia é altamente tarantiana mostrando que Selton Mello tem muita carta na manga.

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