segunda-feira, julho 05, 2021

A Dupla Vida de Veronique

(La Double Vie de Véronique, França/Polônia/Bélgica, 1991)
Direção: Krzysztof Kieslowski
Elenco: Irène Jacob, Philippe Volter, Wladyslaw Kowalski, Halina Gryglaszewska,

Na noite de natal de 1968 na Polônia, uma garotinha aparece na janela observando o céu; abruptamente a cena parece se repetir com a mesma garotinha mas a localização é diferente: ela vive na França. Assim, inicia A Vida Dupla de Veronique - e o filme dá um salto no tempo para 1990. Agora essa garotinha chamada Weronika se transformou em uma bela cantora lírica que sonha com uma carreira musical. Com uma voz singular, ela é aprovada em uma audição para um espetáculo. No entanto, Weronika sente fortes dores no peito; e confessa ao pai uma estranha sensação: a de que não está sozinha no mundo. E caminhando em uma praça em meio a uma manifestação política, ela vê algo insólito: uma mulher que é idêntica a sua fisionomia entrando dentro de um ônibus. Após esta visão, Weronika tem a sua saúde fragilizada e no meio de uma apresentação musical, ela morre em decorrência de uma parada cardíaca. 
Neste mesmo instante - agora na França - Veronique (a garota com quem Weronika viu no ônibus) sente uma súbita tristeza nos braços de seu amante. Após a morte do seu "clone", Veronique perde o amor pela música, e desabafa ao pai que se sente diferente, solitária.  
Após uma carreira de sucesso internacional na sua Polônia natal, o grande Krzysztof Kieslowski desbrava para outros mares (a França) com o sensível A Vida Dupla de Veronique. E aqui o enredo soa como uma adaptação personalíssima do clássico da literatura O Duplo de Dostoiévski. Mas a obra embarca no existencialismo e na metafísica de uma forma sensorial e tocante na jornada da jovem, cativante, apaixonada Weronike, e na sensação oposta figurada pela francesa Veronique (mais comedida e melancólica). E a lindíssima Irène Jacob dá um show ao mostrar as diferenças das duas personagens: enquanto a polonesa é mais ativa, arrisca mais e sempre como um espírito jovial; a francesa é uma mulher perdida que busca algo para se conectar.
Como a protagonista é apaixonada pela música, a bela trilha sonora de Zbigniew Preisner é recheada de música clássica o que ajuda no tom misterioso, etéreo do filme. O diretor também enfatiza bastante o aspecto visual da obra. Em muitos momentos o filme mostra cenas distorcidas, duplicadas dando a entender que cada imagem tem uma realidade e o seu inverso. A fotografia de Slawomir Idziak brinca com os elementos naturais como a água, a luz solar, usando cores vibrantes e quentes na Polônia, e um tom mais opaco na França. Destaque para a linda cena do show de marionete mostrando uma delicadeza e lirismo impressionante. E o diretor surpreende até pelo senso de humor como na cena em que Weronika passa mal na rua e cruza com um exibicionista depravado.
A Vida Dupla de Veronique é um intrigante filme intimista que usa a seu favor belas imagens e a sublime música para seduzir o público a se deslocar para um mundo particular e delicado de sua personagem.

Nenhum comentário: