quinta-feira, julho 01, 2021

Os Incompreendidos

(Les Quatre Cents Coups, França, 1959)
Direção: François Truffaut
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Guy Decomble.

François Truffaut era um renomado crítico de cinema que no fim dos anos de 1950 se desencantou com a  linguagem convencional dos filmes. Desiludido com a carreira ele desiste do cinema? Não! Ele vira cineasta e se torna um dos fundadores do gênero mais autêntico francês: a Nouvelle Vague. Além de ser um dos diretores mais importantes da França.  E com uma mistura perfeita entre realismo e lirismo, Truffaut usa memórias de sua adolescência para o argumento de seu primeiro filme, Os Incompreendidos. Aqui, o cineasta conta a rotina de um garoto de 14 anos chamado Antoine Doinel que é um imã para confusão: na escola é um rebelde que vive de castigo pelos professores; em casa é tratado como um peso pelos pais particularmente pela mãe (só o fato de flagrá-la com um amante na rua não melhora a sua situação).
O filme de Truffaut mescla a realidade e o sentimento. Do realismo, o filme faz uma crítica ao sistema educacional que é mais autoritário que humano com o aluno. Ao invés de compreender, a punição é incentivada gerando um embate entre a anarquia dos alunos versus a austeridade dos educadores. Aqui, o filme aborda a sina de um jovem rebelde (e no fundo incompreendido) que precisa ter o seu impulso controlado pelo Estado, o que fica evidente na cena da prisão na delegacia em que a cela parece um galinheiro. Em uma outra cena, crianças presas em uma gaiola ressoa como o fim da inocência. Truffaut também joga luz os pais ausentes com as suas rotinas estressantes para sobreviver aos perrengues financeiros...além de se responsabilizar na educação do filho.
Do lirismo, o filme expõe o seu lado divertido ao mostrar os garotos aprontando nas ruas de Paris, e mostra a fascinação do garoto pela arte; o filme demonstra o amor do protagonista pelo cinema somado a linda cena em que Truffaut capta a reação das crianças assistindo uma apresentação de fantoche de Chapeuzinho Vermelho. A arte redime.
Outro personagem importante de Os Incompreendidos é a capital francesa. As ruas de Paris é o grande cenário do filme que aos olhos de hoje se transforma em um registro de uma época graças a bela fotografia realista de Henri Decaë inspirado no neorrealismo italiano somado a alegre e jovial trilha sonora de Jean Constantin que casa bem com a dinâmica edição de Marie-Josèphe Yoyotte. Vale lembrar o trabalho primoroso de câmera do Truffaut ao usar câmera na mão e cenários reais o que gera uma autenticidade palpável. E o jovem ator Jean-Pierre Léaud personifica com perfeição espantosa as alegrias e tristezas do protagonista; um garoto que carrega dentro de si as inconstâncias da vida mesmo com a idade tão precoce.
Recordando Charles Chaplin na mistura do drama e humor junto com o final hipnotizante, Os Incompreendidos é um filmaço que vai além da delinquência juvenil.. És um hino a rebeldia, a inconsequência dos atos especialmente juvenis e o despreparo da sociedade em lidar com almas aflitas.

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