quarta-feira, junho 01, 2022

O Homem do Norte

(The Northman, EUA/Inglaterra, 2022)
Direção: Robert Eggers
Elenco: Alexander Skarsgard, Anya Taylor-Joy, Nicole Kidman, Claes Bang.

Na Islândia do século 10, o rei viking Aurvandil retorna para o seu reino e reencontra com a sua família. A sua atenção gira em torno do filho Amleth, um garoto que está se preparando para a sucessão. E em um encontro entre pai e filho, o rei é morto pelo irmão, e Amleth é considerado morto. Mas este sobrevive e ao ver o tio tomar o trono e apossar de sua mãe, decide fugir com o objetivo de futuramente buscar vingança. Anos se passam, o adulto Amleth se transforma em um guerreiro exemplar; e com habilidades impressionantes decide voltar a sua terra para cumprir a antiga promessa...no entanto, lidará com situações inesperadas. 
Se você acha esse enredo familiar, o novo filme de Robert Eggers se baseia na lenda que deu origem a um dos maiores colossos da cultura mundial: Hamlet de William Shakespeare. Aliás, no decorrer do filme, o diretor faz interessante analogia que se comunica com o clássico inglês como a caveira usada na célebre cena "ser ou não ser...". Com muita ousadia e um orçamento maior ainda - 90 milhões de dólares - o diretor realizou um monumento a cultura viking. Rituais primitivos, a ligação mística da natureza e dos deuses se mistura com a brutalidade bestial dos homens. Tudo aqui é cru, sujo, insano, bestial. E o diretor continua fidelíssimo com o seu estilo em que o realismo da produção de época é impressionante. Mas aqui ganha um plus com um caprichado trabalho sonoro. Mas não espere algo na linha do oscarizado Coração Valente do Mel Gibson. O filme de 1995 é Sessão da Tarde ao ir fundo sobre um homem que deseja justiça mas que de fato é vitima de um desejo descontrolado pelo poder. Aqui a violência é descomunal, e o mundo um caos. O elenco está ótimo com a presença animalesca de Alexander Skarsgard. Nicole Kidman dá um show em seu monólogo no reencontro como filho (para mim a melhor cena do filme). Bjork capricha na cena da bruxa com a sua voz inconfundível. Aliás, falando em voz, um dos defeitos do filme foi o resto do elenco ter copiado - sem sucesso - o sotaque da estrela islandesa o que ajuda a tirar o foco no filme, especialmente Anya Taylor-Joy com a sua singularíssima Ofélia, uma boa interpretação que se perde em um sotaque quase macarrônico. O filme também perde força em alguns momentos na sua narrativa mas mesmo assim se destaca não como um mero entretenimento, e sim uma experiência brutal e animalesca sobre um homem que sobreviveu para alimentar um desejo de sangue e justiça mas que a realidade dos fatos lhe corrói até deixá-lo em frangalhos.

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