terça-feira, julho 05, 2022

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

(Evereything Everywhere All at Once, EUA, 2022)
Direção: Daniel Scheinert e Daniel Kwan
Elenco: Michelle Yeoh, Ke Huy Quan, Stephanie Hsu, Jamie Lee Curtis.

Não sei se contar o início da história de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo estragará as surpresas que o filme proporciona, mas a obra é tão alucinante que tentarei dar uma palhinha dos seus primeiros minutos.
Evelyn é uma imigrante chinesa de meia idade proprietária de uma decadente lavanderia nos EUA que leva uma vida conturbada particularmente em relação a sua família: o pedido de divórcio do marido; os ressentimentos escondidos com o pai severo; e a complicada convivência com a filha que assumiu ser homossexual. Mas as coisas só pioram quando ela e a família são auditadas pela Receita Federal. No órgão público, o marido subitamente apresenta um comportamento estranho ao informar que ela tem uma bizarra missão de salvar o mundo explorando vários universos que tem ligação com as suas decisões pessoais.
Sim, o filme é mais um que explora o conceito de multiverso. O tema pode ser batido mas a dupla de diretores Daniel Scheinert e Daniel Kwan fazem a total diferença e usam e abusam da criatividade ao misturar os conceitos de Matrix (1999) como as cenas de luta e ação incessante ao abordar sobre as várias realidades; e o estilo surreal de Charlie Kaufman que não tem medo de pisar no acelerador e deixar o enredo tão maluco, absurdo e ao mesmo tempo humano. E como plus, Scheinert e Kwan adicionam elementos da cultura pop homenageando vários filmes famosos o que criará total empatia aos cinéfilos. Realmente o trabalho dos cineastas na direção e roteiro é impecável, mas o filme apresenta outros elementos que fazem a diferença. A começar pela melhor montagem do ano; o trabalho de Paul Rogers foi de um carpinteiro ao organizar de forma magistral a insanidade do enredo; a trilha sonora de Son Lux torna tudo divertido. E o elenco arrasa. Mais uma vez - desculpe se estou puxando o saco dos realizadores - a ousadia aparece de novo ao escalar uma atriz na casa dos 60 anos como Michelle Yeoh e ela não vacila e entrega uma atuação cheia de camadas sobre uma mulher amargurada pelo destino e que entra no processo de humanização nada convencional nas várias personalidades que ela vivenciou. E esse é o tema do filme, a de que as experiências de vida são importantes mas esta nunca mudará os sentimentos que temos dentro de si mesmos. Evelyn teve múltiplos trabalhos, saboreou o sucesso exorbitante ao fracasso retumbante mas no fundo o que lhe faltava era o conforto do amor. O que escrevi agora é um tremendo clichê barato mas Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo faz isso com uma originalidade e propriedade tamanha que esquecemos de verdadeiro tema. Um dos melhores filmes do ano.

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