quarta-feira, agosto 10, 2022

Crimes do Futuro

(Crimes of the Future, Canadá/França/Inglaterra, 2022)
Direção: David Cronenberg
Elenco: Viggo Mortensen, Léa Seydoux, Kristin Stewart, Scott Speadman.

No futuro, o DNA do ser humano sofreu mutações a ponto do homem ser insensível perante a dor, infecções e doenças. E neste mundo somos apresentados a um casal de artistas performáticos que criaram um espetáculo em que Caprice transforma os órgãos internos de Saul em arte através de cirurgias para o deleite de uma plateia que se excita com o procedimento. Mas a rotina do casal muda com a descoberta de uma nova mutação genética de um grupo de pessoas que conseguem se alimentar de plástico.
Desde do provocativo Mapa Para as Estrelas (2014), o mestre do terror corporal, o canadense David Cronenberg, volta com força total ao estilo que lhe consagrou com o perturbador Crimes do Futuro. Infelizmente o seu novo trabalho resultou em uma obra irregular. Os seus pontos fortes: a ambientação decadente, as cenas grotescas em que realmente o diretor sabe mesclar perturbação com um certo erotismo. Aqui a fascinação e o grotesco andam de mãos dadas. A boa fotografia de Douglas Koch que sabe iluminar o sujo, e deixar tudo mais misterioso em um mundo decadente. As peças encontradas no filme como a cama e a cadeira em que Saul dorme e se alimenta recordam vários filmes do diretor como Gêmeos - Mórbida Semelhança, Mistérios e Paixões e eXistenZ (o diretor não tem medo de sua autorreferência). E o elenco é bom especialmente Viggo Mortensen que sabe interpretar um homem fragilizado e doente em um corpo aparentemente forte e esbelto.
Já o seu ponto fraco foi tirar o foco no casal Saul e Caprice. O roteiro perde força ao incluir um enredo secundário que remete a um mistério raso (que é o caso da nova raça humana) e nas insinuações politicas (e uma mal aproveitada Kristin Stewart). O diretor coloca tantas camadas que fica incompatível com as uma hora e quarentas minutos de projeção, mesmo que a montagem de Christopher Donaldson não seja enfadonha. Faltou um melhor polimento do diretor sob a exploração de suas subtramas e na galeria de personagens secundários.
Mesmo assim, Crimes do Futuro chama atenção pelo inusitado e por um futuro não tão absurdo em que questiona o limite da arte, a fascinação do homem pelo corpo e um estudo interessante sobre as novas formas de prazer.

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