quarta-feira, outubro 05, 2022

A Mulher Rei

(The Woman King, EUA, 2022)
Direção: Gina Price-Bythewood
Elenco: Viola Davis, Thuso Mbedu, Lashana Lynch, Sheila Atim

Nos séculos XVII a XIX, no reino do Daomé, atualmente Benin na África, mulheres em que a cultura local compreende como rebeldes são inseridas numa organização militar chamada de Agojie. De vida casta e focada somente nas batalhas, elas são treinadas a defender com unhas e dentes o reinado de Ghezo que passa a sobreviver da agricultura e do terrível comércio de pessoas escravizadas. E nesse contexto apresenta duas personagens distintas: a chefe do clã, a experiente Nanisca, uma mulher forte e respeitada por planejar e executar importantes batalhas; e a jovem imatura e tempestiva Nawi que acaba de entrar no bando após recusar um casamento arranjado, e descobre no grupo uma grande aptidão para a luta.
A história incrivelmente baseada em fatos chama atenção por si. No entanto a diretora Gina Price-Bythewood tomou um rumo que prejudica o filme. Aqui ela mescla a ação com o drama e falha nas duas rotas. Na ação, as cenas de luta viram um show de cortes rápidos em que o público (pelo menos na minha visão) fica perdido no que está acontecendo na tela (especialmente nas cenas noturnas). No drama, Gina exagera no melodrama e clichê - o romance entre Nawi e o brasileiro Santo Ferreira poderia ser descartado completamente pois não acrescenta em nada.
Uma pena que o roteiro não esteja à altura do elenco que é o ponto alto do filme. Viola Davis é o monstro de sempre na tela, e está totalmente à vontade no personagem (além de ser uma das produtoras). Já a desconhecida Thuso Mbedu também chama atenção como Nawi ao dar vida a uma jovem forte e astuta mas que ao entrar no mundo das Agojie torna um passaporte para uma vida recheada de adrenalinas e escolhas.
Mas o carro chefe da obra é mostrar ao mundo que na selvageria da África colonial, existem histórias surpreendentes sobre o papel da mulher na sociedade. Mesmo com uma rotina rodeada de regras, as Agojie são um símbolo de rebeldia contra o conceito de mulher frágil e dependente dos homens que é preestabelecido e perpetuado até hoje. E ao mesmo tempo um exemplo do empoderamento feminino, particularmente a da mulher afro-descente que sofre de tantos descasos e preconceito no mundo. Pena que com esse argumento poderoso a própria diretora caia no banal tornando o filme comercial e trivial.

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