sábado, outubro 01, 2022

Marte Um

(Brasil, 2022)
Direção: Gabriel Martins
Elenco: Carlos Francisco, Rejane Faria, Camilla Damião, Cícero Lucas.

Quando o Brasil elege Bolsonaro como presidente do país em 2018, uma família classe baixa de Belo Horizonte passa por várias situações: o patriarca Wellington é um porteiro que vê no filho mais novo, David, como um potencial jogador de futebol para sair da pobreza mas não percebe que o seu caçula deseja trabalhar na NASA; a filha mais velha, Eunice, deseja a independência para ter mais liberdade com a sua nova namorada; e pôr fim a matriarca Tercia, uma diarista que passa por uma traumática pegadinha da televisão a ponto de achar que atrai desgraça a quem estiver por perto.
De início, o filme do Gabriel Martins (No Coração do Mundo) parece enveredar por contornos políticos do início da era Bolsonaro sob o angulo de uma família pobre, mas o diretor foi leve na condução da narrativa em que o teor político quase inexiste. Quase. E essa se tona um dos trunfos do filme. A obra foca na rotina de uma família em que cada um tem os dramas particulares, e o fluxo da narrativa dos personagens é excelente e causa empatia imediata ao público. E quem rouba a cena é Rejane Faria que aqui mostra um tremendo carisma e sensibilidade ao dar vida a uma mulher que vê o seu cotidiano ruir ao participar de uma experiência desagradável e infeliz. Aliás, enquanto os pais passam por maus bocados, os filhos também têm suas angústias, mas também sonhos e esperanças (algo que os pais parecem perder no decorrer do filme). Aqui o diretor faz de forma indireta a sua crítica política - enquanto o presente se mostra um copilado de desgraças (o mal-estar da mãe e o sonho frustrado e distante do pai). O futuro é mais promissor com o desejo grande dos filhos (autonomia, uma carreira promissora). Pena que as vezes o filme apresenta cortes abruptos na narrativa; aqui o cotidiano não é retratado com muita naturalidade (como é o caso da relação de Eunice e sua namorada em que uma cena elas se conhecem e minutos depois decidem morar juntas). Mas esse deslize não prejudica o filme pois tudo parece se encaixar na crônica da família Martins. Uma família que se adaptou as dificuldades da vida e sempre se manterá unida...mas que a sua geração atual busca uma vida melhor e grande perspectiva. Esse é o legado otimista de Marte Um.

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