Deserto Particular

(Brasil, 2021)
Direção: Aly Muritiba
Elenco: Antônio Saboia, Pedro Fasarano, Thomas Aquino, Laila Garin.

Daniel é um policial militar que mora em Curitiba e se encontra num momento caótico. No trabalho está prestes a receber uma penalidade em virtude de um comportamento violento durante uma operação. Na vida pessoal, puxou para si a responsabilidade de cuidar do pai que sofre de demência. Cada dia que passa a pressão aumenta a ponto de Daniel fugir do Paraná e dirigir até Sobradinho, interior da Bahia, para conhecer uma garota que conheceu na internet e que se tornou sua válvula de escape.

No texto acima tentei ser o mais discreto possível sobre o enredo pois saber mais da estória de Deserto Particular estraga as surpresas reservadas no roteiro. Aqui o grande Aly Muritiba (Ferrugem, Jesus Kid) se encontra no ápice no quesito contador de estórias. E a inspiração é explícita ao cinema do mestre iraniano Asghar Farhadi. Aqui, quanto mais nos conectamos com o drama de Daniel mais somos sugados a sua dor e também ao senso de estar completamente perdido neste mundo. E o diretor através do ótimo trabalho de montagem da Patrícia Saramago que surpreende o público com as várias camadas que o enredo elabora. A fotografia de Luís Armando Arteaga também é importante ao impor a frieza e a escuridão do sul do Brasil em contraste com o calor e a emoção do nordeste. Aliás, como em Central do Brasil, Daniel precisa sair de sua casa para se encontrar na Bahia numa bonita mensagem que o diretor - que é baiano - faz as suas origens. E no elenco o ator Pedro Fasarano é uma bela surpresa ao dar vida a um garoto que vai percebendo que o seu lugar não é ali - como uma forma de conexão ao protagonista. Deserto Particular não é uma estória de amor mais sim uma ode a importância de fugirmos das vidas miseráveis - para que em algum ponto podemos nos encontrar.